Blindagem


Reação do Planalto a novo escândalo é exemplo de conivência com desmandos

Novos exemplos do nefasto tráfico de influência da ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Nóvoa Noronha e do grupo que atuava em órgãos do governo foram divulgados hoje pela imprensa. Apesar das imputações ao bando só crescerem, o governo adotou mais uma vez a estratégia de blindagem para impedir que os envolvidos tenham que dar esclarecimentos no Congresso.

Os deputados Walter Feldman (SP) e Domingos Sávio (MG) avaliam a reação do Planalto como exemplo de conivência com os desmandos práticos e de temor diante da possibilidade de fatos ainda mais graves virem à tona. Para os tucanos, o governo não tem vontade alguma de combater a corrupção. Conforme ressaltaram, mais uma vez os principais personagens do escândalo são pessoas ligadas diretamente ao ex-presidente Lula.

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Segundo “O Estado de S. Paulo”, as interceptações da Polícia Federal mostram que Rosemary tentou resolver o trâmite de um porte de arma para o segurança do então presidente do PT José Genoino em 2004. Usando de sua influência, também interferiu a favor da mãe do médico de Lula quando ela foi multada pela Receita Federal.

Em outra atuação criminosa, Rosemary teria obtido um documento falso com o grupo investigado na operação Porto Seguro para beneficiar uma construtora de sua família. De acordo com a PF, ela pediu um atestado de capacidade técnica a favor da empreiteira para Paulo Vieira. Ela obteve com a faculdade mantida pela família de Paulo documentos que comprovariam serviços supostamente prestados pela New Talent Construtora Ltda., que tem como sócios a sogra e um genro dela.

“Essa moça já estava há muito tempo no cargo que ocupava, desde a gestão Lula, e continuou com Dilma. Só saiu porque o escândalo estourou, ou seja, não há absolutamente nada de faxina nesse governo”, afirmou Feldman. Para ele, o governo age como em outros casos e sequer pede ou permite uma explicação pública da acusada.

Na avaliação do deputado, a limpeza ética da presidente Dilma nunca existiu. “Em todos os episódios ela só reagiu a fatos escandalosos quando a única coisa que lhe restava era a demissão. Mas tudo de forma passiva. Não há nada que demonstre um esforço contra isso”, criticou Feldman.

Segundo Sávio, o governo convive com a corrupção e tenta encobrir os fatos. “Se a presidente quisesse mesmo resolver seria a primeira a querer que tudo fosse esclarecido. Blindar ou evitar que o Congresso cumpra o seu dever de fiscalizar é uma demonstração clara do desinteresse que tem em ver todo esclarecido, além de mostrar que o governo teme que outros fatos encobertos possam vir à tona”, disse.

Um novo fato revelado pela operação foi que Paulo Vieira redigiu para o então advogado-geral adjunto da União, José Weber Holanda, um parecer no qual a Advocacia Geral da União (AGU) facilita uma obra de interesse privado em Santos (SP). O empreendimento, cuja construção começaria em 2013, é o maior negócio flagrado na operação. O parecer foi assinado pelo consultor-geral da União, Arnaldo Sampaio de Godoy, que declarou ter sido “enganado” pela cúpula da AGU e “usado” pelo esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal.

Votações blindadas

-> Servidores da AGU fizeram manifestação para cobrar rigor nas investigações da operação Porto Seguro em relação a José Weber.

-> Mesmo com todas as acusações, o governo optou por blindar a aprovação dos requerimentos apresentados pela oposição nas comissões do Congresso nesta semana. Apenas na Comissão de Infraestrutura do Senado foi possível aprovar o convite do líder tucano, Alvaro Dias (PR), ao ex-diretor da Agência Nacional de Avião Civil (Anac) Rubens Rodrigues Vieira, irmão de Paulo Rodrigues Vieira (ex-ANA). Ambos estão presos acusados de comandar o esquema de venda de pareceres técnicos de órgãos federais.

-> Diante das denúncias contra Rosemary, o Banco do Brasil decidiu destituir José Cláudio de Noronha do cargo de suplente do Conselho de Administração da Brasilprev, conquistado graças à atuação da ex-mulher. O banco vai pedir a substituição dele na próxima reunião do conselho semana que vem. Claudio recebe além do salário de suplente o de assessor especial da Infraero em São Paulo, outro cargo também obtido por indicação da ex-mulher.

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola / Áudio: Elyvio Blower)

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29 novembro, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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