Descaso no Nordeste


Mesmo abandonada, obra de transposição do São Francisco acumula gastos bilionários

O Nordeste enfrenta a pior estiagem dos últimos 30 anos, mas a conclusão da obra que poderia amenizar os efeitos da seca na vida de 4 milhões de pessoas parece cada vez mais distante. A transposição do rio São Francisco teve o orçamento praticamente dobrado, mas apenas 43% dos projetos foram concluídos. O empreendimento deveria, a partir deste ano, beneficiar 400 municípios em quatro estados da região.

Para os deputados Raimundo Gomes de Matos (CE) e Eduardo Gomes (TO), que visitaram um trecho da construção em março, a transposição retrata o descaso do governo federal com o povo nordestino. Segundo eles, a iniciativa serviu para esvaziar os cofres públicos e virar mote de campanhas políticas. Apesar do abandono da obra, que tem seis dos 14 lotes paralisados, a promessa do governo é entregar tudo em 2015, bem distante da promessa feita pelo ex-presidente Lula de concluir em 2012.

De acordo com Gomes de Matos, o empreendimento foi usado amplamente pelo petista para eleger sua sucessora, mas nunca foi priorizado pelo Planalto. O tucano afirma que, durante visita da comitiva de parlamentares a um canteiro do Ceará o cenário era desolador.

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“Constatamos esse descaso do governo com o Nordeste e de lá para cá nunca fizeram nada. Os custos serão muito maiores que o previsto, pois tudo que foi feito está perdido e precisará ser recuperado”, lamentou, ao defender a entrega das obras ao Exército para acelerar a execução. Em sua avaliação, o Planalto não faz isso porque prefere manter contratos com empresas suspeitas.

Reportagem do Jornal Nacional mostrou ontem (26) que vários projetos precisarão ser refeitos e os custos aumentam cada vez mais. Em 2007, quando teve início, a obra custaria R$ 4,5 bilhões. A previsão subiu em 2010 para R$ 6,8 bilhões e a estimativa atual é de R$ 8,2 bilhões, ou seja, 82% a mais. O Tribunal de Contas da União (TCU) investiga os gastos. Segundo o ministro Raimundo Carneiro, há muitas irregularidades. O tribunal abriu um processo para avaliar o que aconteceu em cada trecho.

“O problema é falta de capacidade de gestão. No Planalto há uma máfia e o que querem é apenas tirar proveito dessa obra, não beneficiar de fato os nordestinos”, alerta Gomes de Matos. Segundo ele, culpar o TCU pela paralisação das obras, como o governo tem feito, não faz sentido. “A obra está parada por causa da roubalheira”, criticou.

Segundo Eduardo Gomes, as obras andam em uma velocidade diferente da exploração política. “O problema é que na gestão, na habilitação das empresas e na fiscalização, o governo não tem tido a mesma eficiência que tem na exploração eleitoral dessas obras. A população vai tomado consciência de que a única coisa pronta lá são as placas de publicidade e de visitas da presidente e de outras autoridades”.

O deputado avalia que os custos tendem a aumentar devido à ineficiência de gestão, um demonstrativo do que é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “É mais um capítulo da novela do PAC, que sempre se mostrou uma peça de publicidade eleitoral eficiente e uma ferramenta de gestão completamente ineficiente do ponto de vista de realizações”, criticou.

(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower)

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27 novembro, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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