Tiro no pé


Jornais desqualificam nota de apoio a Lula, divulgada após PT constranger aliados

Por meio de editoriais, os jornais “Folha de S. Paulo” e “O Globo”, dois dos principais do país, desqualificam neste sábado (22) a nota de lideranças partidárias de apoio a Lula, divulgado na quinta-feira. No mesmo dia, parlamentares do PSDB consideraram os ataques absolutamente despropositados.

Intitulado “Ridículo”, o texto do diário paulista afirma que os petistas recorreram aos “trapos de um vocabulário de esquerda” para iludir. “`Golpismo`, `aventura conservadora`, `ataque à democracia`: assim se qualificou o empenho de desvendar o desvio de recursos públicos e a corrupção de parlamentares, levando o caso à Justiça, com amplo direito de defesa e longos anos de contraditório, de recursos e protelações”, diz trecho do editorial.

“O Globo” também faz duras críticas ao documento, assinado por partidos aliados sob constrangimento, como destacam reportagens publicadas também neste sábado. “Relacionar as condenações lavradas até agora pelo STF ao suicídio de Getúlio e à queda de Jango inscreve a nota no melhor do Febeapá, sigla de ‘Festival de Besteiras que Assola o País’, criado por Stanislaw Ponte Preta”, compara o periódico.

E o que ficou ruim poderia ser pior: segundo presidente do PSB, Eduardo Campos, o texto divulgado foi a quarta versão debatida pelas legendas. As anteriores eram “catastróficas” e “raivosas”, segundo ele. Mesmo o texto final foi reprovado pelas legendas. O PMDB, por exemplo, o considerou “péssimo”. Os ministros do STF também discordaram do tom adotado pelo PT e seus aliados. Já os senadores do PDT foram pegos de surpresa, pois não teriam sido consultados pelo presidente do partido.

Confira abaixo as íntegras dos dois editoriais:

Ridículo – Folha de S. Paulo

Não deveria, mas suscita pouca estranheza o documento de líderes partidários governistas divulgado na quinta-feira. O presidente do PT e artífice da nota, Rui Falcão, já se notabilizara por reações tão previsíveis quanto destemperadas ao modo como se desenvolve o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).

Somam-se agora à ladainha outras figuras do bloco situacionista. Vão de Renato Rabelo (PC do B) ao coordenador da campanha de Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo, Marcos Pereira (PRB). O manifesto insiste no gênero de argumento ouvido desde as primeiras denúncias sobre o mensalão.

Quando Roberto Jefferson, presidente do PTB, narrou em entrevista à Folha as gestões de um publicitário mineiro, Marcos Valério, que resultavam em saques de dinheiro vivo beneficiando políticos da base governista, tudo o que se tinha eram denúncias. Provinham, aliás, do líder de um partido que acabava de ser envolvido num escândalo de propina nos Correios.

Foi só aos poucos, como lembrou ainda nesta semana Joaquim Barbosa, relator do processo no STF, que os nomes pronunciados por Jefferson, e os fatos a eles associados, se confirmaram nas investigações. Vieram as confissões daquilo que, pouco antes, se negava com máxima indignação.

O petismo não perdeu a empáfia. Ao lado da esfarrapada desculpa de que os recursos do mensalão correspondiam apenas a gastos de campanha, surgiu a mais desonesta e deslavada operação ideológica de que foram capazes os tartufos da moralidade pública e da igualdade social.

Associados, como o são cada vez mais, à direita religiosa, ao malufismo, a José Sarney e a Fernando Collor, os petistas recorreram aos trapos de um vocabulário de esquerda para iludir os que, sempre, querem manter-se iludidos.

“Golpismo”, “aventura conservadora”, “ataque à democracia”: assim se qualificou o empenho de desvendar o desvio de recursos públicos e a corrupção de parlamentares, levando o caso à Justiça, com amplo direito de defesa e longos anos de contraditório, de recursos e protelações.

O PT, tantas vezes acusado de ser “denuncista” quando erguia as bandeiras do “Fora Collor” e do “Fora FHC”, recorre ridiculamente à mesma tática, ao associar o desfecho do julgamento no STF à iminência das eleições municipais.

Os governistas de São Paulo não deveriam preocupar-se tanto. Oriundo de um partido (PRB) no qual sobrevive o PL, notoriamente envolvido no escândalo, Russomanno é o líder nas pesquisas.

O PRB assina, todavia, a nota contra o “golpismo”. A contradição política deve importar pouco, entretanto, para um bando multipartidário que já se acostumou a contradizer-se na polícia.

Fora do prumo – jornal “O Globo”

PADECE DE grave autismo, de distância absoluta da realidade, a nota de partidos da base governamental que fareja golpe da oposição nos rumos que toma o julgamento do mensalão pelo Supremo.

RELACIONAR AS condenações lavradas até agora pelo STF ao suicídio de Getúlio e à queda de Jango inscreve a nota no melhor do Febeapá, sigla de “Festival de Besteiras que Assola o País”, criado por Stanislaw Ponte Preta.

ORA, A Corte, que já concordou com a denúncia do MP de que houve desvio de dinheiro público e fraude financeira na alimentação do valerioduto, tem a maioria composta por ministros indicados por governos do PT (Lula e Dilma). Age, portanto, e assim deve ser, como legítimo organismo de Estado.

EM VEZ de “golpe”, o Supremo está é contribuindo para fortalecer a democracia. Se o truque de enxergar atentados ao estado de direito em revelações de mazelas de facções petistas só enganava militantes, agora, tentar a mágica, enquanto o Supremo faz, ao vivo, a autópsia do mensalão, ficou ainda mais delirante.

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22 setembro, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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