Manifestação sem voz


Apelo do PT por apoio da militância é “grito de misericórdia”, diz Feldman

“Grito de misericórdia”. É dessa forma que o deputado Walter Feldman (SP) vê os apelos do PT em busca de ajuda da militância para defender a legenda e o ex-presidente Lula. O Partido dos Trabalhadores divulgou nota no mesmo dia em que o relator do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, afirmou que o governo Lula comprou votos de deputados e o apoio do PP, PMDB, PTB e PL (hoje, PR) para aprovar leis na Câmara.

Para Feldman, esse é o reconhecimento implícito dos danos aos réus já provocados pelo processo. “O PT quer mobilizar a população para falar contra a ética”, condenou o tucano nesta terça-feira (18).

Em nota divulgada ontem (17), o PT convocou os militantes da sigla para uma batalha nas eleições municipais. A orientação é que, além de conseguir votos, os filiados devem defender o ex-presidente Lula, o próprio partido e os demais líderes e ocupantes de mandatos.

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“É o lance final, a última tentativa de utilizar um mecanismo que foi muito positivo na luta pela transformação do Brasil, na luta pela democracia, a favor do Ficha Limpa, quando mobilizamos a população para ir às ruas. O mesmo instrumento de mobilização agora está sendo utilizado do lado contrário. Eu chamaria do último grito dos excluídos”, afirmou.

O PT está na contramão da história, de acordo com Feldman. Segundo ele, não tem como negar aquilo que vem sendo confirmado pelo STF. “O Partido dos Trabalhadores quer negar os fatos que estão sendo mostrados todos os dias. Quer mobilizar a população para falar contra a ética, contra aquilo que é evidente aos olhos da sociedade: a existência do mensalão, que corrompeu parte da estrutura política brasileira”, apontou.

O deputado concluiu ressaltando que a mobilização reunirá apenas aqueles beneficiados por um sistema equivocado de uso da máquina pública ou por cabos eleitorais a serviço do partido. “Será uma manifestação sem voz, sem luz e distante da sociedade como um todo.”

O texto foi elaborado pela Executiva Nacional. A nota, porém, não menciona reportagem publicada nesse fim de semana pela revista “Veja”, segundo a qual o operador do mensalão, Marcos Valério, tem dito a amigos e familiares que Lula seria o “chefe” e “fiador” do suposto esquema de compra de apoio político.

A nota do PT conclama os filiados para “uma batalha do tamanho do Brasil: em cada cidade, pequena, média ou grande, trata-se de obter grandes votações, elegendo vereadores e vereadoras, prefeitos e prefeitas. E fazendo a defesa de nosso partido, do ex-presidente Lula, de nossos mandatos e lideranças, bem como do legado dos nossos governos, que melhoraram as condições de vida e fortaleceram a dignidade do povo brasileiro”, diz a nota.

Braço direito no esquema

Segundo a revista, Lula teria se empenhado diretamente na coleta de dinheiro para o esquema e tinha o ex-ministro José Dirceu, réu no processo do mensalão, como seu “braço direito”. O caixa do PT no esquema, também segundo “Veja”, seria de pelo menos R$ 350 milhões. O valor é quase três vezes superior ao que foi denunciado pelo Ministério Público Federal.

→ O relator do julgamento do mensalão, Joaquim Barbosa, confirmou ontem o ponto central da acusação da Procuradoria Geral da República ao concluir que parlamentares e partidos receberam dinheiro para apoiar, entre 2003 e 2005, o governo Lula no Congresso Nacional.

→ “Comprovou-se a realização de transferências milionárias de dinheiro, R$ 55 milhões, por réus ligados ao Partido dos Trabalhadores em proveito de vários parlamentares e partidos que, mediante a sua atuação, passaram a compor a chamada base aliada do governo na Câmara”, afirmou Barbosa na sessão do STF.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower)

 

 

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18 setembro, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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