Toma lá dá cá


Mudança no comando do Ministério da Cultura não passa de jogo político do PT, avaliam deputados

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) assumiu nesta quinta-feira (13) o Ministério da Cultura em uma clara demonstração de articulação política liderada pelo Palácio do Planalto. Os deputados Raimundo Gomes de Matos (CE) e William Dib (SP) avaliaram a mudança no comando da pasta como uma negociação tendo em vista as eleições municipais. O setor cultural, de acordo com os tucanos, foi deixado em último plano.

A nova ministra nunca apresentou proposta relacionada à área enquanto esteve no Senado. Ela foi indicada ao cargo logo após aparecer publicamente prestando apoio ao candidato do PT à prefeitura de São Paulo. A troca coincide ainda com denúncia feita pela ex-titular Ana de Hollanda sobre o estado de penúria no setor.

Para Dib, o fato de Marta não ter experiência na área é indiferente para o PT. “Não tenho nenhuma dúvida de que isso foi uma negociação política onde a Marta saiu vitoriosa. Ela peitou todo mundo no jogo que o PT sempre fez, o jogo do toma lá dá cá, e conseguiu o que queria”. Na avaliação do tucano, o governo pensou em tudo, menos na cultura. “Levaram em conta quem poderia sair de qualquer ministério sem causar muito impacto político. O negócio deles é o compromisso político, não resolver problemas”, criticou.

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Na avaliação de Gomes de Matos, o setor cultural está abandonado. Segundo ele, o governo deu espaço à senadora para fortalecer o Partido dos Trabalhadores no pleito em São Paulo. A carta enviada por Ana de Hollanda ao Ministério do Planejamento reclamando da falta de recursos abalou sua permanência no cargo. A ex-titular detalhou a precariedade de prédios históricos, como a Biblioteca Nacional e o Palácio Capanema.

“Ditatorialmente, a presidente não quer ouvir críticas, nem mesmo de quem está na função para cuidar da área”, afirmou Gomes de Matos. “Se outro ministro falar que sua área está deficitária, ele poderá estar com as horas contadas no cargo”, alertou. Ele ressalta que, dos 13 projetos de lei e duas propostas de emenda à Constituição apresentados por Marta Suplicy durante os dois anos em que esteve no Senado, nenhum tinha relação com a cultura.

“É triste ver a cultura ser entregue a políticos sem nenhuma expressão na área nem compromisso com o potencial que o Brasil possui no segmento. Temos apenas que repudiar essa situação. A cultura nordestina, nossas bibliotecas, teatros e patrimônio histórico, para tudo isso o governo virou as costas. A presidente não teve a dignidade de ouvir as reivindicações da ministra que deixou o cargo. É triste vermos que ela saiu por falar a verdade”, apontou.

A mudança foi a 13ª no primeiro escalão do governo Dilma. Sete delas foram motivadas por denúncias de corrupção. A troca de Ana de Hollanda por Marta Suplicy se assemelhou à mudança no Ministério da Pesca, em fevereiro. Marcelo Crivella, que assumiu a pasta, também não tinha nenhuma afinidade com a área e foi conduzido ao cargo para atender as pretensões do Planalto, especialmente as eleições no Rio de Janeiro. O próprio governo divulgou nota à época afirmando que “a mudança permite a incorporação ao ministério de um importante partido aliado da base do governo”.

(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower)

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13 setembro, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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