Dirceu na berlinda


Julgamento do mensalão vai chegando perto de quem mais deve, destaca ITV

Como aponta a Carta de Formulação e Mobilização Política desta terça-feira (11), a onipresença de José Dirceu na “sofisticada organização criminosa” é tão evidente que bastou o ministro Joaquim Barbosa deslindar um pouco a meada para se aproximar das “quatro paredes de um palácio presidencial”. “No vértice de todo este organograma de malfeitorias, pontuava ninguém menos que o ministro-chefe da Casa Civil do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva. O julgamento do mensalão vai chegando perto de quem mais deve”, diz trecho do documento editado pelo Instituto Teotônio Vilela, cuja íntegra está disponível abaixo:

José Dirceu nem era um dos réus na pauta da sessão de ontem no Supremo Tribunal Federal. Mas sua onipresença na “sofisticada organização criminosa” é tão evidente que bastou o ministro Joaquim Barbosa deslindar um pouco a meada para se aproximar das “quatro paredes de um palácio presidencial” citadas pelo procurador-geral da República. O julgamento do mensalão vai chegando perto de quem mais deve.

O STF trata agora da terceira das sete partes em que foi fatiada a análise do caso pelos magistrados. Debruça-se, ao longo das próximas sessões, sobre a prática de crime de lavagem de dinheiro. Ontem, o relator pediu a condenação de nove réus dos chamados núcleos financeiro – leia-se Banco Rural – e publicitário, ou seja, as agências de Marcos Valério.

O esquema fraudulento desnudado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e ratificado ontem pelo ministro Barbosa perpetrou 46 operações de lavagem. Delas, saiu o dinheiro que irrigou o mensalão. O dolo era reiterado: registros contábeis fajutos, empréstimos milionários de fachada, desrespeito a leis do sistema financeiro.

No vértice de todo este organograma de malfeitorias, pontuava ninguém menos que o ministro-chefe da Casa Civil do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva. A onipresença de José Dirceu no esquema mafioso é conhecida e sabida, mas ontem, pela primeira vez, o nome dele foi citado pelo ministro relator em seu voto, vinculando-o ao esquema de repasse de recursos surrupiados dos cofres públicos. Foi a entrada triunfal em cena dos capas-pretas do partido no julgamento que apura o maior escândalo de corrupção da história política do país.

Barbosa mostrou que os frequentes encontros entre Dirceu e Kátia Rabello, executiva do Rural, serviram para cuidar da operação do mensalão, que tinha no banco mineiro uma lavanderia montada para embranquecer dinheiro desviado dos cofres públicos. Dali saíram, pelo menos, R$ 32 milhões para financiar a compra de apoio parlamentar no Congresso.

“Embora Kátia Rabello e José Dirceu não admitam ter tratado do esquema de lavagem de dinheiro, é imprescindível atentar para o contexto em que tais reuniões se deram. Não se trata de um fato isolado, de meras reuniões entre uma dirigente de banco e o ministro da Casa Civil, mas de encontros ocorridos no mesmo contexto em que se verificaram as operações de lavagem de dinheiro levadas a efeito pelo grupo criminoso apontado na denúncia”, afirmou o ministro relator.

Em sua defesa, Dirceu alegou que tais encontros se prestavam a exposições da “situação do Brasil e das coisas que acreditava importantes para o país naquele momento”. Mas ali se tratava de algo muito mais polpudo: a participação do banco no esquema de desvio de dinheiro público e compra de apoio parlamentar. Em troca, a benevolência do governo petista em relação a uma operação de R$ 1 bilhão que interessava ao Rural: o levantamento da liquidação extrajudicial do Banco Mercantil de Pernambuco, do qual o banco mineiro era um dos donos. Como se vê, Dirceu estava em tudo o de ruim que pudesse ocorrer.

O líder petista foi denunciado pela PGR por formação de quadrilha, como chefe da “quadrilha”, e por corrupção ativa. Só será diretamente julgado quando o Supremo ingressar no exame dos itens seis e dois do processo, que tratam de distribuição de recursos a políticos aliados e formação de quadrilha, respectivamente.

Um dado novo, hoje só destacado pelo Correio Braziliense, ressalta uma das características centrais do mensalão, que os advogados dos réus petistas sempre tentaram negar em sua defesa: a existência de pagamentos frequentes e continuados nos guichês do Rural. A constatação se baseia em depoimento do ex-tesoureiro da agência do banco em Brasília, lembrado ontem pelo ministro relator.

José Francisco de Almeida Rêgo contou ter presenciado a entrega de quantias vultosas de dinheiro sacado das contas de empresas de Valério. E o mais importante: a partir de 2003, quando começou o governo Lula, os saques de dinheiro passaram a ser mais constantes e eram comuns retiradas de R$ 100 mil até duas vezes por semana.

Ao longo das mais de 20 sessões já realizadas até agora, o Supremo já demonstrou que os recursos que alimentaram o valerioduto foram desviados de cofres públicos; que se tratou de um esquema para comprar o apoio de políticos no Congresso; e que instituições financeiras foram usadas para lavar dinheiro sujo e dar ares de normalidade a um imenso organograma da corrupção. A partir de agora, o fio da meada encaminha-se para quem orquestrou e dirigiu o mensalão. Na mira, o que se passou dentro de quatro paredes de um palácio presidencial.

(Fonte: ITV/ Foto: José Cruz – Agência Brasil)

Compartilhe:
11 setembro, 2012 Últimas notícias 1 Commentário »

Uma resposta para “Dirceu na berlinda”

  1. Maria Isabel Mathilde Gonçalves disse:

    Estou daqui de casa assistindo como o faço a cada dia que há seção no STF a fala do ministro revisor.No intervalo, resolvi enviar meu comentário.Ele, o relator, tendo levado ao Supremo, artigo saído na mídia sobre Geisa Dias (tratando do salário da referida senhora, carteira de trabalho) o que achei dispensável, disse que ela só recebia R$1.600,00 o que não seria dentro dos padrões de pagamento para uma pessoa categorizada dentro de uma Instituição Financeira.À parte digo eu: com 20 anos de aposentada não recebo isso,mas R$1.200,00.Porém não é disso que quero tratar no momento.O revisor ,levou quase uma hora falando da dita Geisa no Banco Rural o que também achei muito tempo gasto na leitura,uma vez que o Relator Ministro Joaquim Barbosa já o fizera em seu relatório.Num determinado momento,imaginei que se “pegariam” especialmente quando Lewandowisky falou, que ali estava havendo na Corte algo “heterodoxo”(procurei no Google) .Na minha pobre opinião, leiga nos assuntos políticos e jurídicos,desde o primeiro dia do julgamento dessa Ação 470 tenho minhas dúvidas,uma vez que a mídia colocou em seus jornais que ele, o relator,antes de entrar para a Suprema Corte, seria filiado ao Pt do Lula o que já me deixa com o pé atrás.Procede essa informação?Gostaria muito de saber, para não estar fazendo julgamentos sem fundamento.Acho desnecessário o Revisor estar levando como disse o Ministro Relador “Intrigas de jornal”.Quanto mais demoram suas exposições no julgamento, mais demorará o final que queremos ver condenados:José Dirceu,Jenuíno,Delubio e todo restante do Pt e mais alguns partidos que também usufruiram e que levou Lula à Presidência deste País.Vejo que não foi seu “CARISMA” como dizemuns, nem sua “Pernanbuquice” dizem muitos.Não tinha noção dos milhões, trilhões que rolaram para que essa ambição fosse realizada, somando à aquiescência dos ignorantes e iludidos que acreditaram em suas promessas totalmente vãs.
    Bem; recomeçou a seção e volto a assití-la.
    Muito obrigada,Isabel

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *