Comportamento suspeito


Tentativa de ex-presidente da Delta de não ir à CPI soa como confissão de culpa, diz Vaz de Lima

Integrante da CPI do Cachoeira, o deputado Vaz de Lima (SP) classificou nesta segunda-feira (20) de “atestado de culpa” o pedido do ex-presidente da construtora Delta Fernando Cavendish para não comparecer à comissão mista de inquérito.

Marcado para o próximo dia 29, o depoimento do empresário é um dos mais aguardados. Os advogados de Cavendish entraram com pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) para que ele não apenas fique calado, mas sequer precise ir ao Congresso.

Enquanto ele tenta ficar calado, a Delta continua faturando alto em contratos com o governo federal. Só no primeiro semestre recebeu mais de R$ 250 milhões, de acordo com informações da revista “Veja”.

Para o deputado do PSDB, a tentativa de Cavendish de fugir do interrogatório dos deputados e senadores pode representar muito mais do que alega a sua defesa. “Não comparecer ou mesmo ficar calado significa que ele tem muito a falar, mas não quer se expor porque isso pode atingir o coração do governo, até mesmo da presidente Dilma. Ela era a ‘mãe do PAC’ na época que a Delta mais cresceu no país, com obras como a de Guarulhos, pagas sem serem realizadas”, afirmou.

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Segundo denúncia da revista Época, a Delta teria sido favorecida irregularmente em duas concorrências públicas para realização de obras do Programa de Aceleração de Crescimento no município comandado pelo PT e localizado na região metropolitana de São Paulo.

Para que Cavendish não precise ir à CPI, seus advogados alegam, entre outras coisas, que o empresário perdeu a mulher em acidente de helicóptero há cerca de um ano e que ele seria exposto a situação “desrespeitosa, humilhante e atentatória a sua integridade psicológica, já tão abalada”. Além disso, afirmam que os parlamentares têm feito duras acusações contra ele, o que faria com que o executivo comparecesse como acusado, e não como testemunha.

“Espero que o Supremo não abra esse precedente muito ruim. O direito constitucional de ficar calado é normal, mas se até mesmo o Cachoeira, que está preso, foi à CPI, por que Cavendish não pode ir?”, questiona Vaz de Lima. “Ao fazer isso, ele está assinando seu atestado de culpa, ainda que ele tenha o direito de fazê-lo”, completou.

Desde o início das investigações da CPI mista os parlamentares do PSDB têm alertado para a estreita relação entre a Delta e o governo federal. Na semana passada, deputados chegaram a defender que a CPI deveria focar suas investigações nesta empreiteira, e não na atuação de Carlos Cachoeira e no estado de Goiás, como vem sendo feito.

Em 12 anos a Delta já recebeu mais de R$ 4 bilhões em contratos, sendo que o grande salto no faturamento ocorreu a partir de 2007, quando foi lançado o PAC.

De lá para cá, com exceção de 2008, em todos os anos a empresa esteve no topo das que mais receberam verbas do governo federal. Neste ano, mesmo após vários indícios de irregularidades, já abocanhou R$ 250 milhões. Só em junho foram R$ 32 milhões. “É mais uma razão para se dizer que havia entre a Delta e o governo um pacto para sangrar os cofres do Estado”, alertou Vaz de Lima.

Empreiteira deveria ser o foco das investigações
-> Na última quarta-feira (15), os deputados tucanos defenderam o aprofundamento das investigações em cima da empresa, pois os indícios se tornavam ainda mais fortes. “Agora sim a CPI parece que vai começar. Vamos iniciar os trabalhos e nos preparar para acompanharmos a CPI da Delta. O Cachoeira virou córrego, coisa pequena, para o tamanho das coisas que não estão querendo investigar”, destacou o líder do PSDB na Câmara, deputado Bruno Araújo (PE).

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower)

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20 agosto, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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