Ensino estagnado


Resultados do Ideb mostram que educação brasileira continua sem passar de ano

Há muito pouco a comemorar nos resultados do Ideb divulgados ontem, aponta a Carta de Mobilização Política desta quarta-feira (15). De acordo com o documento editado pelo Instituto Teotonio Vilela, os avanços são tímidos demais, os problemas se avolumam à medida que os alunos progridem nas séries, o abismo entre ensino público e particular permanece. “A educação brasileira continua sem passar de ano”, lamenta o órgão de estudos políticos do PSDB. Confira a íntegra abaixo:

Há muito pouco a comemorar nos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) divulgados ontem pelo Ministério da Educação (foto). Os avanços são tímidos demais, os problemas se avolumam à medida que os alunos progridem nas séries, o abismo entre ensino público e particular permanece. A educação brasileira continua sem passar de ano.

Os estudantes saem-se melhor nas séries iniciais do ensino fundamental, pioram um pouco no segundo ciclo e afundam de vez no ensino médio. Fica nítido que há um funil nos anos finais de formação dos alunos. Decorrem pelo menos dois efeitos mais evidentes desta lógica perversa: alta evasão escolar e baixa capacitação de quem sai das salas de aula para o mercado de trabalho.

O Ideb é calculado a partir da Prova Brasil, avaliação aplicada pelo governo federal aos alunos da rede pública – toda ela, obrigatoriamente – a cada dois anos. Escolas privadas são avaliadas apenas por amostragem, mas é possível que também passem a ter que se submeter compulsoriamente aos exames. A prova é aplicada no 5° e 9° anos do ensino fundamental e no 3° ano do ensino médio.

Os alunos respondem a questões de língua portuguesa, com foco em leitura, e de matemática, com ênfase na resolução de problemas. Mas o desempenho nas duas disciplinas compõe apenas parte da nota. Outra parcela é aferida a partir da progressão dos estudantes, ou seja, do nível de aprovações e repetências. Daí surgem distorções.

Nas séries iniciais, entre o 1° e o 5° anos, em que o alunato sai-se levemente melhor, o Ideb médio do país passou de 4,6 em 2009 para 5 em 2011. Praticamente metade da melhora (0,22 ponto, para ser mais preciso) se deve, de fato, a um desempenho menos sofrível dos estudantes em português e matemática; a outra metade, à redução da repetência. “Aprovar é mais fácil que melhorar a aprendizagem. Para aumentar o fluxo, basta uma canetada”, desnuda Priscila Cruz, diretora do Todos pela Educação.

Em quaisquer dos ciclos analisados pelo Ideb, o Brasil não passa de ano. As médias nos anos iniciais do ensino fundamental (1° ao 5° anos), nos finais (6° ao 9° anos) e no ensino médio (o antigo 2° grau) não ultrapassam 5, numa escala que varia de 0 a 10. Registre-se que, em todos os casos, as metas oficiais para 2011 foram cumpridas, mas de que adianta, se tão medíocres são?

A nota do segundo ciclo do fundamental foi de 4,1, enquanto a meta proposta para o ano era de 3,9, mas sem esquecer que, entre 2009 e 2011, o avanço foi de apenas 0,1 ponto. No ensino médio, a nota média do Ideb no país variou de 3,6 para 3,7 no período, resultado que garantiu tão somente o cumprimento da meta oficial à risca.

A situação é mais calamitosa no ensino médio: “O índice de aproveitamento do ensino médio esteve, desde 2005, ou encostado na meta, ou abaixo dela, sem contar que a meta é muito baixa. O de 2007 ficou em 3,5 (a meta era 3,4), o de 2009 ficou em 3,6 (a meta era 3,5), e o de 2011 ficou em 3,7 (a meta era 3,7). Não houve evolução na aprovação do Ideb do ensino médio de 2009 (0,8) para 2011 (0,8); a evolução no desempenho de matemática foi imperceptível, passando de 274,7 (2009) para 274,8 (2011); em língua portuguesa houve queda, passando de 268,8 em 2009 para 268,6 em 2011”, sintetiza o Valor Econômico.

É nesta etapa de aprendizado que há menos professores com formação adequada, estruturas mais deficientes e projetos pedagógicos mais falhos. É também, não por coincidência, para onde se destinam a menor parcela dos gastos públicos em educação, excetuando-se a infantil: o médio recebe 13% do total, enquanto 65% vão para o fundamental e 15% para o superior.

Nos anos do ensino médio, a distância entre o desempenho das escolas públicas e privadas se agiganta. A diferença entre a pontuação delas chega a 2,3 pontos, enquanto nas séries inicias do fundamental é de 1,8 ponto. Resultado: o desempenho de estudantes do ensino médio público em português e matemática é inferior ao atingido por alunos do último ano do fundamental particular, com três anos de estudos a menos.

“Por qualquer ângulo, a conclusão é uma só: nossas redes não estão ensinando. Ainda que haja algum avanço nos anos iniciais, nos anos finais e no ensino médio o país está estagnado. Milhões de alunos passam anos nas escolas, mas chegam ao final dos ciclos sem saber o esperado”, resume Denis Mizne, da Fundação Lemann.

Nos últimos anos, o MEC tem sido usado de trampolim e figurado como celeiro de pretendentes petistas a cargos políticos de maior projeção. Desde a era Lula, de lá saiu um governador de estado e, mais recentemente, um pretendente a prefeito de capital. Os maus resultados que o país tem obtido na educação de suas crianças e jovens não os credenciam a dirigir sequer um carrinho de pipoca.

(Fonte: ITV/ Foto: Marcello Casal Jr/ABr)

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15 agosto, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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