“Cachoeira virou córrego”


CPI deve concentrar investigações em negócios da Delta, defendem deputados

Na avaliação de tucanos, “CPI da Delta” é o nome mais apropriado para a comissão mista que investiga a organização de Carlos Cachoeira. O depoimento da comerciante Roseli Pantoja da Silva nesta quarta-feira (15) evidenciou, de acordo com os parlamentares, que a atuação criminosa da construtora excede a do contraventor. A depoente é apontada como sócia de uma das principais firmas fantasmas usadas pelo grupo para lavar dinheiro, a Alberto & Pantoja. Ela garantiu a deputados e senadores não ter ligação com o esquema.

Conforme concluiu o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), usaram o nome de Roseli com CPF de outra pessoa para abrir seis empresas de fachada utilizadas pela Delta. O nome dela aparece escrito com “y” no lugar do “i” nos documentos.

“Agora sim a CPI parece que vai começar. Vamos iniciar os trabalhos e nos preparar para acompanharmos a CPI da Delta. O Cachoeira virou córrego, coisa pequena, para o tamanho das coisas que não estão querendo investigar”, destacou o líder do PSDB na Câmara, deputado Bruno Araújo (PE).

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“A Delta é beneficiária de dinheiro da corrupção. O país e o governo federal estão naufragados nela. O Dnit e o PAC são os maiores contratantes da Delta e ela continua prestando serviço como se tudo estivesse bem. Não é só o Cachoeira que deveria estar preso, mas também o Fernando Cavendish e todos que facilitaram licitações irregulares e aditivos. O dinheiro que foi parar nas contas de empresas fantasmas é do povo”, afirmou Domingos Sávio (MG).

O deputado ressaltou que inúmeros contratos da Delta com o governo federal partiram de aditivos ilegais que chegam a até 100% do valor inicialmente contratado, quando a legislação permite apenas 25%. Para ele, Roseli foi uma das várias vítimas da organização criminosa.

Só a Alberto&Pantoja recebeu da Delta cerca de R$ 29 milhões em um ano. Foram depósitos feitos mês a mês à firma, que na prática nunca existiu. A depoente afirmou não saber como pode ter se tornado sócia de uma empresa da qual nunca ouviu falar. Ela foi casada com o contador Gilmar Carvalho Moraes, apontado pela Polícia Federal como sócio de outra empresa de fachada, a G&C Construções e Incorporações Ltda. Ela teria passado uma procuração para ele, antes da separação, para que providenciasse a abertura da microempresa da qual realmente é dona e trabalha atualmente, mas não é citada pela PF.

Segundo a comerciante, o ex-marido usou a procuração para abrir uma conta e emitiu vários cheques sem fundo. Os deputados levantaram a possibilidade de Moraes ter utilizado o documento para abrir as companhias no nome da ex-mulher. “Pode ter sido ele e vamos convocá-lo para que explique como foi montada essa empresa fantasma que utilizou recursos oriundos da Delta para fins criminosos”, afirmou Vanderlei Macris (SP).

Para o deputado, a situação de Roseli exemplifica a forma como a Delta agia. Empresas fantasmas eram criadas e recebiam repasses de recursos públicos recebidos pela construtora de contratos com o poder público. Pessoas que trabalhavam para a quadrilha sacavam os valores e entregava para membros do grupo.  “Sem dúvidas a Delta está deixando Cachoeira como um personagem pequeno dessa organização criminosa. A Delta é a grande holding desse grupo”, disse o tucano.

Na opinião de Macris, o principal trabalho da CPI agora é desvendar o caminho do dinheiro. Para isso, ele acredita ser preciso fazer os cruzamentos entre dados e sigilos, algo que a Polícia Federal não teria feito.

Além de Roseli Pantoja, compareceram a CPI nesta quarta-feira, Hiller Braga Anannias, que foi segurança do ex-senador Demóstenes Torres, e Edvaldo Cardoso, ex-diretor-geral do Detran-GO. Ambos permaneceram em silêncio.

(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Alexssandro Loyola/ Áudio: Elyvio Blower/ Vídeo: Hélio Ricardo)

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15 agosto, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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