Condução equivocada

Sampaio reprova direcionamento político nos trabalhos da CPI do Cachoeira

O deputado Carlos Sampaio (SP) criticou o relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), por direcionar as investigações do colegiado. O tucano ameaça apresentar um voto em separado ao final dos trabalhos. A comissão ouviu 12 pessoas ligadas ao governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), enquanto apenas 10 envolvidos no esquema de Cachoeira foram chamados. Entre os requerimentos aprovados e cumpridos, 42% são referentes a Perillo e 19% a Cachoeira.

“Os números falam por si só. Levantamento estatístico mostra que o relator ouviu até agora 42% das pessoas ligadas ao governador e apenas 19% ligadas ao núcleo criminoso que é o objeto da CPI. Ou seja, ligadas ao Carlos Cachoeira. Não investigam o Cachoeira nem seu braço financeiro (Delta), mas investigam o Marconi Perillo, que não faz parte de núcleo criminoso algum. Há um direcionamento e o relator precisa rever seu posicionamento”, afirmou Sampaio.

O deputado defendeu a criação de sub-relatorias para dividir a condução dos trabalhos. Segundo lembrou, as maiores CPIs do Congresso usaram esse instrumento. O relator petista não aceitou criar os grupos. “Técnicos colocados à disposição da CPI estão, na verdade, à disposição só do relator. Não sei quem são, não consigo consultá-los e não sei onde ficam. Portanto, não tenho como dizer que os técnicos estão à disposição do colegiado”, criticou.

Nenhum dos quatro convocados para prestar depoimento nesta terça-feira (3) compareceu à sessão. São eles: Joaquim Gomes Thomé Neto, Rosely Pantoja da Silva, Ana Cardozo de Lorenzo e Edivaldo Cardoso de Paula. Eles são suspeitos de participar, em Goiás, da organização do contraventor. Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público, Cachoeira seria o chefe de um esquema de jogos ilegais e faria tráfico de influência com agentes públicos e privados.

Ao ser questionado sobre uma possível desmoralização a ausência dos depoentes frente à opinião pública, o deputado ressaltou: “Não é uma desmoralização, pois é um direito que cabe aos depoentes justificar sua ausência ou não falar. Agora se a justificativa é falsa, ele tem que ser conduzido pela Polícia Federal.”

O PSDB e o PPS apresentaram ontem à CPI requerimentos para convocar o prefeito de Palmas (TO), o petista Raul Filho, flagrado em vídeo negociando com o contraventor. Os requerimentos devem ser votados na quinta-feira (5), em sessão administrativa. Poderão ser apreciados ainda os requerimentos de  convocação de Fernando Cavendish, dono da Delta, e de Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). O PSDB defende a vinda do Cavendish, de Pagot e do prefeito de Palmas, que admitiu ter aceitado a ajuda de Cachoeira na campanha eleitoral de 2004, quando se elegeu pela primeira vez ao cargo.

Direcionamento comprovado

– Foram aprovados 49 requerimentos referentes a 28 pessoas ligadas ao governador Marconi Perillo. A CPI ouviu 12, ou 42% dos indicados.

– Em relação a Cachoeira, foram 116 requerimentos aprovados referentes a 51 pessoas. Foram ouvidas 10, ou 19% das pessoas indicadas.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Foto: Alexssandro loyola/ Áudio: Elyvio Blower/ Vídeo: Hélio Ricardo)