Silêncio constrangedor


Governo Dilma deveria pedir desculpas por ter feito projeções fantasiosas sobre a economia

A economia brasileira segue, lentamente, dia após dia, sua trajetória ladeira abaixo. “Até bem pouco tempo atrás, a presidente da República propagandeava que o PIB aceleraria neste ano. De repente, o discurso róseo do governo foi sendo deixado de lado. As projeções fantasiosas foram sendo abandonadas, sem, contudo, merecer qualquer explicação oficial do governo petista ao distinto público. Falta um mea culpa”, cobra o Instituto Teotonio Vilela em sua Carta de Formulação Política desta terça-feira (19). Confira abaixo a íntegra.

Com a maioria das atenções voltadas para os problemas globais em discussão na Rio+20, a economia brasileira segue, lentamente, dia após dia, sua trajetória ladeira abaixo. Até agora não se ouviu do governo Dilma Rousseff nenhuma explicação sobre as razões de a situação ter piorado tanto e em tão pouco tempo. Falta um mea culpa.

Vale recordar que, até bem pouco tempo atrás, a presidente da República propagandeava aos quatro ventos que a economia brasileira aceleraria neste ano. Dilma não falava sozinha: seu ministro da Fazenda apostava ainda mais alto e previu, durante muito tempo, crescimento de 5% em 2012. Era só bravata ou foi má-fé mesmo?

De repente, sorrateiramente, o discurso róseo do governo foi sendo deixado de lado. As projeções fantasiosas de dias atrás foram sendo abandonadas, sem, contudo, merecer qualquer explicação oficial do governo petista ao distinto público.

A portas fechadas, em encontro com governadores na semana passada, a presidente Dilma disse não enxergar “luz no fim do túnel” para a crise europeia. Foi uma forma de dizer que, por aqui, a escuridão também deve prevalecer. Por que ela não vem a público manifestar-se com o mesmo realismo?

Já se dá de barato que o desempenho da economia brasileira neste ano deverá ficar aquém até mesmo dos 2,7% do pibinho de 2011. No boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central, os prognósticos despencaram. A previsão prevalecente entre analistas financeiros agora é de que o nosso PIB crescerá apenas 2,3% em 2012.

A deterioração nas expectativas foi rápida, e implacável: as projeções caíram quase um ponto percentual em pouco mais de um mês, algo incomum neste ambiente. Não há dúvida que a onda virou. E o pior é que o chamado “mercado” não é muito costumeiro em acertar prognósticos de PIB; quase sempre erra para mais.

Não são apenas as projeções que azedaram. A economia real continua amarga no segundo trimestre: de acordo com a prévia do PIB divulgada pelo BC na sexta-feira, em maio a economia caiu 0,02% sobre o mesmo mês de 2011, na primeira queda neste tipo de comparação desde setembro de 2009. No acumulado em 12 meses, o crescimento é de 1,65%.

Ocorre que o governo brasileiro apostou alto numa única estratégia: a do aumento do consumo, parecendo julgar que a curva ascendente verificada nos últimos anos poderia perdurar para sempre. Descuidou, neste ínterim, de incentivar os investimentos e os empreendimentos privados, apesar de toda a fama de boa gerente de que a presidente gozava.

Com as vendas no comércio já refluindo, o governo simplesmente ignorou – ou será que desconhecia? – que o consumidor tem limites para se endividar. Estrilou quando a federação que representa os bancos fez um alerta nesta direção, mostrando que não bastaria os juros baixarem na marra, se o tomador não quer beber da água da dívida.

Erros acontecem. O que não se admite é a insistência neles, a despeito de todos os alertas em contrário. Não é de hoje que o governo vem sendo criticado pelo seu samba de uma nota só na economia, o do incentivo ao consumo desenfreado – e justamente no momento em que o mundo todo discute como tornar o planeta mais sustentável e menos agredido pelos excessos.

Não é de hoje também que se pede mais celeridade para destravar investimentos privados, concessões, parcerias público-privadas no país. Mas, aos apelos, novamente a gestão petista responde com promessas tardias, voltadas agora a incitar o “espírito animal” do empresariado – apenas, porém, no ano que vem, porque neste Inês já é morta.

Em dezembro, Mantega falava que havíamos batido “no fundo do poço” e começaríamos a decolar. Meses depois, afirmou que “ter 2,7% como piso de crescimento tá é muito bom”. Em ambos os casos errou feio, mas nem na primeira nem na segunda ocasião foi desautorizado pela presidente. Caberia agora a ambos justificar por que alcançar o pibinho de 2011 tornou-se tarefa impossível.

(Fonte: ITV)

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19 junho, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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