A crise econômica europeia e seus reflexos no Brasil, por Marcio Bittar


Tenho acompanhado as tensões envolvidas no agravamento da crise econômica que assola a Europa. Os números são desanimadores e atingem países dos mais diversos matizes políticos, como Grécia, Espanha, Portugal, Itália e Holanda.

O agravamento da crise na Europa pode levar a economia brasileira a um “círculo vicioso”, onde desaquecimento mais intenso da atividade econômica se propagará com força para o mercado de trabalho, levando à menor expansão da renda; e piora na atividade industrial, já estagnada. O alerta partiu do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em seu Comunicado nº 130 – “Considerações sobre a desaceleração do PIB em 2011”.

Entretanto, apesar deste sinal de alerta, emitido por um órgão governamental, os jornais brasileiros abrem a semana alertando para um preocupante cenário de desaceleração econômica, com redução, por parte do governo federal, dos poucos investimentos previstos.

Segundo os jornais, no primeiro quadrimestre ocorreu uma queda de 5,5% nos gastos com novas obras públicas, compras de equipamentos e bens permanentes em relação ao mesmo período do ano passado, que já havia sido considerado fraco. O valor caiu de R$ 11,1 bilhões em 2011 para R$ 10,5 bilhões.

Apesar do discurso, para consumo externo, de ufanismo e de projeções otimistas para o PIB, resta claro que estamos caminhando para um PIB abaixo dos 3%, o que atingirá em cheio as pretensões brasileiras de demonstrar-se imune às crises econômicas internacionais.

O próprio desempenho do PAC é uma demonstração do estado de letargia que acomete o governo federal. Os investimentos, que já eram baixos, caíram 24% no quadrimestre. E estes números revestem-se de maior gravidade por se tratar do gargalo econômico e logístico brasileiro: o setor de infraestrutura, que, em conjunto com a educação e a saúde, podem permitir ao Brasil tornar-se um país desenvolvido de fato.

Em um mundo cada vez mais globalizado, qualquer crise, em qualquer grau, alcança todo o mundo em tempo recorde e não podemos imaginar que o Brasil consiga ficar imune à forte retração da demanda mundial.
Dessa forma, a permanência da crise europeia e de seus efeitos no Brasil, reforça a necessidade de promover as reformas estruturais negligenciadas ao longo dos governos petistas.
Não basta à presidente Dilma Rousseff responsabilizar a crise nos países desenvolvidos pela desaceleração econômica nos países emergentes. A solução para blindar o Brasil de crises econômicas externas passa por um sério choque de gestão do governo e não por discursos ufanistas e vazios, que apenas encobrem um desastre futuro e previsível.
E o choque de gestão deve privilegiar a eficiência do Estado e o combate ao desperdício, com ênfase na racionalização da administração pública, e na meritocracia como estímulo aos servidores, combatendo os apadrinhamentos políticos e os feudos partidários. São medidas já utilizadas em Minas Gerais, durante a gestão do Senador Aécio Neves e que geraram excepcionais dividendos ao cidadão mineiro.
O corte de despesas com custeio, a partir de uma máquina pública mais eficiente e ágil, gera economia de recursos que podem ser aplicados em investimentos que venham a garantir um desenvolvimento sólido para o país, possibilitando o escoamento da produção e atraindo novos polos industriais. Recursos que devem ser aplicados, principalmente, na educação de qualidade, que prepare as próximas gerações para os novos desafios de uma economia cada vez mais complexa.
Mas, ao invés de medidas baseadas em investimentos, a presidente opta por anunciar mais uma medida que aquece, ainda mais, o consumo, e atende a apenas um segmento industrial: o automobilístico.
Ora, é paradoxal que a mesma presidente que, de forma truculenta, ameaça vetar todo o Código Florestal, aprovado nesta Casa Legislativa após exaustivas rodadas de negociações. A mesma presidente que cerca de expectativas sua participação na Rio + 20, esta mesma presidente produza um pacote de bondade que atende apenas à indústria automobilística, colocando o Banco Central para rifar R$ 18 bilhões em depósitos compulsórios liberados para o financiamento de automóveis, exatamente onde há mais inadimplência. Estamos falando de uma ajuda bilionária a uma indústria altamente poluente e que apenas piora a já caótica mobilidade urbana brasileira.
E nenhuma voz, dentre as milhares que atuam a favor de um Código Florestal draconiano, se ergue para acusar essa medida inútil, do ponto de vista econômico, e altamente poluente do ponto de vista ambiental.
A verdade é que o governo federal está abrindo mão de receitas e aumentando o endividamento das famílias, em um pacote que apenas ampliará o caos nos centros urbanos e causará maior empobrecimento nos Estados e Municípios brasileiros, que veem diminuir os repasses constitucionais a cada novo plano que envolve atabalhoada desoneração tributária.
O Brasil precisa de mais seriedade na área econômica para atravessar esse período turbulento e não de discursos populistas e vazios que desafiam a lógica e não encontram amparo na realidade.
(*) Marcio Bittar é deputado federal pelo PSDB/AC e presidente do Diretório Estadual do PSDB no Acre. (Foto: Ag. Câmara)
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23 maio, 2012 Artigosblog Sem commentários »

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