Óleo derramado


País do pré-sal improvisa e vê crescer temor de um desastre ambiental nos campos brasileiros de petróleo

A Carta de Formulação e Mobilização Política desta terça-feira (20) alerta para o crescimento do temor de um desastre ambiental nos campos brasileiros de petróleo. “O histórico de imprevidência do governo brasileiro colabora para agravar os riscos: prometido há quase 150 dias, o plano de contingências para a exploração de óleo ainda não existe. Acidentes em série vêm escancarando o despreparo do Brasil para cuidar de atividade tão potencialmente danosa”, diz trecho do documento editado pelo Instituto Teotônio Vilela. Segundo o órgão de estudos políticos do PSDB, o país do pré-sal improvisa e ameaça rifar seu passaporte para o futuro. Confira a íntegra abaixo:

Cresce o temor de um desastre ambiental nos campos brasileiros de petróleo. Acidentes em série na exploração petrolífera vêm escancarando o despreparo do Brasil para cuidar de atividade tão potencialmente danosa. O país do pré-sal improvisa e ameaça rifar seu passaporte para o futuro.

Quase uma semana depois de divulgado o novo vazamento no Campo de Frade, as autoridades brasileiras ainda não conseguiram dimensionar o estrago. Estima-se agora que a mancha de sujeira possa ter chegado a sete quilômetros quadrados de extensão – ou seja, nada que os meros cinco litros de vazamento informados na primeira hora fossem capazes de provocar. O buraco, pelo jeito, é bem mais embaixo.

As primeiras investigações, feitas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, indicam que a exploração do Campo de Frade vinha se dando de forma bastante temerária, para dizer o mínimo, pela Chevron. A companhia teria injetado pressão absurda sobre uma estrutura frágil. Com isso, o óleo aflorou, e desde novembro parece não ter estancado.

O risco é de que a situação degringole. “O vazamento não tem como ser controlado. É uma cratera no solo marinho”, descreveu Eduardo Santos, procurador da República envolvido nas investigações. “A situação é grave e está fora de controle. A indústria não está preparada para responder”, reforçou Fábio Scliar, delegado da PF responsável pelo inquérito – ambos ouvidos por O Estado de S.Paulo.

Como mostrara O Globo ontem, “o governo trabalha com o pior dos cenários e já prevê vazamentos em série no local”. Todo o solo da região onde foi localizado o vazamento pode afundar. O petróleo está saindo pelas fissuras, que ainda não foram dimensionadas. O mar de sujeira avança.

Desde novembro passado, vêm ocorrendo sistematicamente vazamentos mensais de óleo nos campos ou rotas de produção de petróleo na costa brasileira. Mas órgãos federais responsáveis pelo controle ambiental, como Ibama, ANP e Marinha, não têm sequer registro das ocorrências, segundo revelou a Folha de S.Paulo no domingo.

Só a Petrobras já noticiou cinco vazamentos sérios neste ano. Aliás, o acidente no Campo de Frade também vitima a estatal: a companhia é sócia da Chevron na exploração da área, com participação de 30% no consórcio. Assim, arcará, também, com os possíveis ônus decorrentes do acidente.

O histórico de imprevidência do governo brasileiro colabora para agravar o desastre. Desde que ocorreu o vazamento de novembro, quando 2,4 mil barris escorreram para o oceano, a gestão petista vem prometendo um plano de contingências para a exploração de petróleo no país. Mas até hoje, passados quase 150 dias, ele ainda não existe. O governo diz que a proposta já está pronta, mas ainda depende da aprovação de “alguns ministérios envolvidos” e também da presidente da República. Ou seja, na realidade não há nada.

Do pouco que se divulgou até agora a respeito do plano, foi dito que ele terá R$ 1 bilhão para ações em casos de acidentes. Especialistas afirmam que trata-se de algo irrisório, diante do que pode ser necessário gastar em caso de vazamentos de maiores proporções: o valor teria de ser multiplicado por dez num país com as perspectivas de exploração que tem o Brasil.

Para se ter ideia, os acidentes com a Chevron ocorreram em áreas perfuradas a um quilômetro da superfície. Imagine-se o que pode acontecer nas reservas do pré-sal, localizadas a uma profundidade até sete vezes maior, com riscos exponencialmente mais elevados, e mesmo desconhecidos.

Mesmo assim, os planos do governo petista restringem-se a medidas pós-vazamento, nada à prevenção. Não há “nada estruturado” para se preparar para o pior, segundo Segen Estefan, diretor de tecnologia e inovação da Coppe/UFRJ. Pelo jeito, infelizmente, pode nos sobrar apenas chorar o óleo derramado.

(Fonte: ITV)

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20 março, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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