Lenha na fogueira


Crise na base aliada revela incompetência de Dilma no trato político e falhas no modelo petista de governar

A crise na base aliada comprova a falta de habilidade política da presidente Dilma e revela as consequências do seu estilo nada cordial no tratamento com o Congresso. Essa é a avaliação dos deputados Márcio Bittar (AC) e Walter Feldman (SP). A troca das lideranças do governo na Câmara e no Senado, promovida esta semana pela petista, foi considerada um desastre pelos próprios aliados e colocou mais lenha na fogueira. Na quarta-feira (14), o Planalto perdeu o apoio da bancada de senadores do PR. Como resultado do conflito, o Parlamento deixou de votar medidas como o Código Florestal e a Lei Geral da Copa.

De acordo com Márcio Bittar, Dilma é incompetente em liderar a base. Segundo o tucano, a tensão entre Executivo e Legislativo faz parte do jogo, mas na gestão petista as alianças não são feitas em torno de projetos, e sim de barganha. “Esse governo não tem nenhuma proposta ou reforma, então a relação é exclusivamente de toma lá dá cá. Essa crise mostra a incompetência da presidente para lidar com o meio político, sem o qual ela não sobrevive”, resumiu.

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Para Walter Feldman, o rompimento do apoio da base aliada revela o desgaste do modelo de governar petista. Segundo o tucano, o presidencialismo de coalizão adotado pelo PT é prejudicial ao país. “Esse modelo de presidencialismo já dava sinais de desgaste e mostrava, por incompetência do governo federal e uma relação equivocada com o Parlamento, que ele não poderia se manter”, afirmou.

Com medo de traições e derrota no Congresso, a presidente Dilma mandou suspender as votações esta semana. A análise da Lei Geral da Copa foi adiada. Já a votação do Código Florestal ficou para depois de junho. “Coisas importantes para o Brasil não estão sendo votadas por culpa do governo e de sua crise. Isso é um prejuízo para a nação causado pela base governista e de uma presidente da República que não consegue se relacionar bem com ela”, condenou Bittar.

Feldman criticou a falta de sintonia da petista com os seus aliados. “O Brasil vive uma crise por conta de equívocos e desacertos desse governo na frente política. A presidente Dilma dá sinais de saturação e de dificuldades na negociação com o Congresso. A perda de condições de votação mostra uma dissintonia”, apontou.

Após a troca repentina de líderes do governo na Câmara e no Senado, a rebelião na base aliada pode ganhar adesões do próprio PT, de acordo com o “O Estado de S. Paulo”. Parlamentares petistas ouvidos pela reportagem preveem “dias difíceis” para a gestão Dilma, “com focos de incêndio por todos os lados”. Os partidos aliados deram início a uma ofensiva contra o Planalto. O ex-líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), será o relator do Orçamento de 2013. Ele trabalhará a favor da emenda constitucional que implanta o orçamento impositivo e obriga o governo a cumprir a lei orçamentária tal qual saiu do Congresso. Se aprovada, o governo não poderá, por exemplo, mexer nas emendas dos parlamentares, informou o jornal paulista.

Polêmica

A liberação da venda de bebida alcoólica na Copa do Mundo de 2014 levou o governo a cometer erros nos últimos dias. Segundo o Estadão, as ministras da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, garantiram aos líderes governistas que o Planalto não havia assumido o compromisso com a Fifa de permitir a comercialização do produto nos estádios. O novo líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), fechou um acordo com a base para retirar o artigo da Lei Geral da Copa. Horas depois, uma reunião de emergência na Casa Civil reverteu a orientação. Gleisi Hoffmann admitiu que foi “induzida” ao erro por assessores. A polêmica evidencia a fragilidade do diálogo do governo com o Congresso e os descompassos da articulação política da presidente, apontou o jornal.

O deputado Otavio Leite (RJ) anunciou que vai protocolar destaque para votar em separado a questão em plenário. Ele reiterou a importância de respeitar a legislação em vigor no país, que veta a comercialização da substância nas arenas. “Essa lei é necessária em função dos conflitos, das brigas e até de mortes que aconteceram pelos estádios. No nosso entendimento a população quer que essa proibição seja mantida. Há divergências em todos os partidos. Isso irá ao plenário e tudo pode acontecer. A proibição tem chances de ganhar”, afirmou em entrevista ao programa Brasil em Debate, da TV Câmara, nessa quinta-feira (15).

Após reunião com a presidente nesta sexta-feira (16), o presidente da Fifa, Joseph Blatter, afirmou que recebeu garantias de que os compromissos firmados em 2007 para a realização do evento estão mantidos – o que inclui a venda de bebidas nos estádios.

Estilo duvidoso

→ No início da semana o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) substituiu Cândido Vaccarezza (PT-SP) na liderança do governo na Câmara. No Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) assumiu o posto de Romero Jucá (PMDB-RR).

→ Em todos os partidos há críticas quanto ao estilo de Dilma de se relacionar com o Congresso. Alguns chegam a dizer que ela não sabe fazer política, de acordo com o jornal “O Estado de S. Paulo”. Um líder da base ouvido pela reportagem afirmou que as legendas duvidam de que a relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso vá mudar.

→ A saída do PR no Senado da base de apoio ao governo representa um prejuízo equivalente a quase 10% dos 81 senadores, segundo o jornal.

(Reportagem: Alessandra Galvão/ Fotos: Ag. Câmara/Áudio: Elyvio Blower)

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16 março, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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