Tesourada em ministério


Corte no orçamento da Ciência e Tecnologia afeta desenvolvimento do país, criticam tucanos

O corte de 22% no orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia anunciado ontem (14) representa um desserviço ao país e contradiz o discurso do governo de priorizar a área. A avaliação é dos deputados Eduardo Azeredo (MG) e Romero Rodrigues (PB). Eles esperam por explicações convincentes do ministro Marco Antônio Raupp sobre os impactos da tesourada aplicada pelo Planalto. O titular participará de audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia, presidida por Azeredo, no próximo dia 28 para debater esse e outros assuntos.

Os parlamentares avaliam que a redução dos recursos, além de contrariar a política anunciada pelo Planalto durante a posse do novo ministro, em janeiro, é uma sinalização de que o país terá seu desenvolvimento prejudicado nos próximos anos. O contingenciamento de R$ 1,48 bilhão deve, segundo os tucanos, atingir compromissos, além de afetar o desenvolvimento sustentável e a competitividade da economia.

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Em artigo publicado nesta quinta-feira (15) no jornal “Folha de S.Paulo”, a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, destaca que, além do corte, o governo federal, com a justificativa do superávit primário, tem retido ano após ano parte dos recursos do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia. Por lei, as verbas devem ser aplicadas na área. Estudos apontam que de 2006 a 2010 a arrecadação do FNDCT somou R$ 11,8 bilhões, dos quais o governo reteve R$ 3,2 bilhões.

“O governo mais uma vez se mostra contraditório. Diz que quer prestigiar a ciência e tecnologia, mas na prática não é isso que acontece, como foi demonstrado com os cortes orçamentários”, criticou Azeredo. O tucano explica que essa é uma área fundamental para o crescimento da nação, na qual se encontra “a raiz da solução para os problemas brasileiros”. A gestão petista não parece se atentar para isso. O Brasil hoje investe apenas 1,19% do PIB no setor, muito aquém de outros países em desenvolvimento, como a Coreia do Sul (3,36%).

Romero Rodrigues considera o setor estratégico e acredita ser difícil manter o nível de desenvolvimento tecnológico, incluindo incentivo à pesquisa e inovação, com os cortes.  “O governo deveria ampliar ao invés de reduzir os investimentos. O Brasil precisa avançar e isso só é possível com a aplicação de recursos. A presidente deveria rever rapidamente esses cortes”, avaliou.

Especialistas acreditam que o corte no orçamento da pasta podem comprometer projetos, como a entrada do Brasil no Observatório Europeu do Sul, a participação no Centro Europeu de Pesquisas Nucleares e a construção do novo anel síncrotron, um tipo de acelerador de partículas, em Campinas. Além disso, os cientistas estão preocupados com o dinheiro destinado para o financiamento de pesquisa, conforme destaca o site da “Veja”.

Contradições

-> Durante a posse, o ministro Marco Antonio Raupp fez as seguintes promessas: “Em 2013, teremos o primeiro foguete ucraniano Cyclone lançado a partir de Alcântara; em 2014, o primeiro satélite geoestacionário brasileiro; e em 2015, teremos o lançamento do Amazônia 1, um satélite inteiramente brasileiro.” Raupp também mandou um recado à “comunidade espacial”. “Acompanharei de perto as alterações no nosso programa. O Brasil terá a projeção espacial que precisa e merece.”

->A presidente da SBPC resumiu as consequências do subfinanciamento do setor: “Realizar cortes em ciência, tecnologia e inovação é interromper o futuro do país. O efeito só será sentido daqui muito tempo. Sabemos que devemos economizar e que a situação financeira do mundo não é boa, mas os cortes nunca devem ocorrer em educação e ciência. Qual jovem, ao saber dessa notícia, vai acreditar que queremos ser uma nação desenvolvida? Essa situação cria uma insegurança nos novos talentos e deixa claro que não temos um projeto de Estado. Ou o Brasil muda de fato ou continuará sendo uma nação extrativista, que exporta petróleo para a China e depois pede para que eles venham montar iPads no Brasil.”

(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Ag. Câmara/ Áudio: Elyvio Blower)

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15 março, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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