Aparelhamento do Estado

Deputados criticam Dilma por não escolher ministro com perfil técnico para a Pesca

A troca do ministro da Pesca, Luiz Sérgio, pelo senador Marcelo Crivella (PRB) foi encarada com ceticismo por tucanos. Deputados afirmam que a presidente Dilma fez a substituição com a intenção de acomodar o PRB no primeiro escalão da administração federal. A mudança foi anunciada pela Secretaria da Presidência nesta quarta-feira (29) por meio de nota. Segundo o texto, a medida permitirá incorporar à Esplanada um “importante partido aliado da base”.

O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), reprovou a indicação. “Impressiona a dimensão da capacidade que esse pessoal do PT tem de não respeitar o interesse público”, criticou. Para o líder da bancada na Câmara, Bruno Araújo (PE), trata-se de uma manutenção de ajuste das dificuldades da gestão petista. O parlamentar não acredita que o novo titular represente a opinião da bancada religiosa. “Não creio que os evangélicos troquem os princípios que têm defendido com tanta ênfase por conta do Ministério da Pesca.”

O deputado Carlos Sampaio (SP) afirma que Dilma, outra vez, dá passagem aos interesses políticos. “O que norteia não é o perfil técnico e o preparo intelectual, mas sim a importância dele dentro da composição no Congresso”, disse. “Mais uma vez prevalece a acomodação partidária.”

Na visão de Rogério Marinho (RN), o PT estabeleceu como regra o aparelhamento do Estado. Segundo ele, a escolha ocorreu em função das conveniências do Planalto, quando deveria ter sido fundamentada pelas necessidades do Brasil. “O governo privilegia excesso de cargos comissionados e de ministérios para resolver problemas da base. É o chamado presidencialismo de resultados. Isso não gera benefícios para a sociedade.”

Marinho defende a extinção do órgão. “Na maioria dos países do mundo que tem indústria pesqueira mais avançada do que a nossa, não existe este ministério.”

Crivella é o terceiro a ocupar a pasta na administração Dilma. No ano passado, numa dança de cadeiras, Dilma nomeou Ideli Salvatti, então titular da Pesca, para comandar a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) no lugar de Luiz Sérgio. Apelidado de garçom, por não ser ouvido durante as reuniões, Sérgio foi transferido para a vaga deixada pela colega petista.

Sem representatividade

A mudança atende antiga reivindicação do PRB, que tem uma bancada de dez deputados. Crivella é o único senador do partido, legenda do ex-vice-presidente José Alencar. Presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado João Campos (GO) afirmou que o novo ministro não representa a bancada. Campos disse que a Frente nunca foi consultada sobre o assunto e, portanto, não está representada no governo.

(Da redação/ Foto: George Gianni/PSDB/ Áudio: Elyvio Blower)