O papel central da estratégia de saúde da família, por Marcus Pestana
Nunca é demais lembrar que as pesquisas de opinião pública identificam a saúde como principal preocupação dos brasileiros. Há, em geral, uma frustração de expectativas e uma avaliação negativa em relação ao SUS. É inegável que os avanços foram muitos e que a saúde hoje no Brasil é muito melhor que há 23 anos, quando a pedra fundamental do SUS foi lançada. Mas estamos longe de entregar aos cidadãos os direitos e princípios constitucionais.
É evidente que, para atender às cobranças da população, os gestores de saúde têm que se desdobrar em ações de curto prazo que gerem impactos imediatos no atendimento à população.
Mas, em longo prazo, numa perspectiva estratégica, o imediatismo e a pressa não construirão o sucesso. Só uma ação transformadora consistente, estruturante e sistêmica poderá produzir resultados satisfatórios. Isso implica em construir um consenso e uma convicção de que o avanço passa pela consolidação de redes de atenção integral à saúde das pessoas coordenadas fortemente por uma atenção primária qualificada e eficaz. Sem isso, o sistema parecerá permanentemente aos olhos dos cidadãos um caleidoscópio fragmentado, desconexo, quase indecifrável.
É fundamental dispor de bons hospitais, assegurar acesso a medicamentos, ter bons centros de diagnóstico e atenção especializada. Mas para defender a qualidade de vida das pessoas e melhorar a gestão e os resultados do sistema não há outro caminho. Sugiro a leitura de “As Redes de Atenção à Saúde”, de Eugênio Vilaça.
A estratégia da Saúde da Família foi o caminho escolhido para enfrentar o desafio. São mais de 30 mil equipes em todo o Brasil, sendo mais de 4.000 em Minas Gerais. Uma equipe multidisciplinar responsável por uma população e um território geográfico definidos, motivada e bem-treinada, produz um fantástico efeito organizador no sistema e uma forte melhoria nos níveis de saúde da população. A combinação de ações de promoção da saúde, prevenção, diagnóstico precoce, atendimento primário, acompanhamento das doenças crônicas pode deslocar, em grande parte, o centro de gravidade do sistema das portas de hospital e dos balcões de farmácia para os pontos de atenção da saúde da família.
Os problemas não são poucos. Vão desde traços culturais de desconfiança da população e de muitos profissionais do setor, o fascínio pela tecnologia até a difícil formação e fixação de médicos da família nas pequenas cidades, na periferia das grandes cidades e nas cidades mais pobres e distantes.
Daí a importância de iniciativas tomadas pelo governo de Minas, nos últimos anos, de desencadear uma série de ações no âmbito do Programa Saúde em Casa: a contratualização de metas, a qualificação da gestão da clínica através de protocolos e linhas guias, a construção de mais de 2.000 unidades de saúde, o Canal Minas Saúde, a Educação Permanente, o Tele Saúde, o Plano Diretor.
O caminho é longo, mas não há atalhos que valham a pena.
(*) Marcus Pestana é deputado federal pelo PSDB-MG. Artigo publicado no jornal “O Tempo” em 06/02/11;
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