Novo líder


Bruno Araújo: “Mais do que um partido de oposição, PSDB tem que se firmar como uma legenda de posição clara”

Eleito em 14 de dezembro pelos seus pares para liderar a bancada a partir de fevereiro, o deputado Bruno Araújo (PE) é taxativo: mais do que um partido de oposição, o PSDB tem que se firmar como legenda de posição clara, em que o eleitor brasileiro saiba o que a agremiação pensa em relação aos principais temas em debate no país. Em entrevista à “Folha de Pernambuco”, o tucano ressalta que esta será uma das linhas mestras de sua atuação como líder.

“Vamos continuar vigilantes no processo de oposição, de fiscalização, mas vamos imprimir um ritmo maior em ações propositivas do partido e ações de iniciativa da bancada, trazendo discussões novas ao Congresso e cobrando também do governo que ele deixe de ser uma gestão que opera somente o dia a dia e não cuida da estruturação do país”, afirmou Araújo. Na entrevista, o parlamentar também é questionado sobre temas como agenda de votações na Câmara e eleições municipais, presidencial e na capital do seu estado, Recife. Confira abaixo a íntegra:

Quais serão suas primeiras ações como líder do PSDB na Câmara?
Primeiro, já na quinta-feira, vamos analisar a mensagem da presidente Dilma Rousseff. A partir daí, vamos ter ações que não vão se pautar única e exclusivamente pela rotina da Câmara ou pela pauta do Governo. Vamos continuar vigilantes no processo de oposição, de fiscalização, mas vamos imprimir um ritmo maior em ações propositivas do partido e ações de iniciativa da bancada, trazendo discussões novas ao Congresso e cobrando também do Governo que ele deixe de ser um Governo que opera somente o dia a dia e não cuida da estruturação do País. Desde o final do governo do PSDB que o País não discute nem faz mais reformas estruturantes. Nem de quebra de monopólio da Petrobras, desde privatização de sistemas de telecomunicações e da instituição do Plano Real. Os três governos do PT, até aqui, com a exceção da Reforma da Previdência no primeiro ano do Governo Lula, deixaram de operar ações que estruturam o País para o futuro. Nós vamos começar a cobrar ações de Governo que sejam responsáveis com o futuro de médio e longo prazo para o Brasil, e não só um governo para satisfação momentânea.

Quais são as expectativas para votações neste semestre legislativo?
As votações mais importantes para o semestre são a criação do fundo complementar de previdência para o servidor público, que envolve algo polêmico e vai mobilizar representações sindicais no sentido de contestação ao projeto; a conclusão da pauta do Código Florestal, que marca uma satisfação que nós precisamos dar ao País para dar um grau de estabilidade no planejamento de um país em que a atividade da agricultura  ainda é a principal mola da economia. Vamos ter também a discussão de algo que, para nós, em Pernambuco, e na maioria dos estados brasileiros é fundamental, que é a questão dos royalties do petróleo. Não estamos vendo firmeza de nenhum tipo por parte do Palácio do Planalto que essa votação avance. Esses três projetos, por si só, já mostram que há temas absolutamente relevantes e que precisam ter suas votações concluídas ao longo deste semestre.

Qual a sua avaliação do primeiro ano de Governo Dilma?
Um governo burocrático, de uma presidente que se fecha em palácio, toma decisões administrativas e tem dificuldades no trato da relação política pelo temperamento, pelo estilo de ser. Mas que continua surfando em um ambiente macroeconômico positivo que o País ainda vive, visto que a crise que atingiu a Europa ainda não atravessou o Atlântico. Para este ano, existem variáveis que não temos como prever. As quedas de ministros têm acontecido com uma frequência muito curta e Dilma tem tido dificuldade com os ministros em intervalos muito curtos. Não tenho como avaliar se esse ciclo se interrompe ou não. Na virada do ano, além do episódio (do ministro da Integração Nacional) Fernando Bezerra Coelho (que foi alvo de denúncias pela Imprensa nacional), já houve um problema dentro da base aliada, que é a demissão do diretor do Dnocs (Elias Fernandes). Começamos o período legislativo com a demissão de um graduado funcionário, demitido por irregularidades apontadas pela CGU. E ouvimos nos bastidores que o que se escutam são as brigas entre os dois principais partidos da base aliada, que é o PT e o PMDB. Essa sequência de problemas que a presidente tem tido com ministros, pelo menos, até o momento não se esgotou.

O partido o elegeu líder na Câmara tendo em vista a nacionalização. Como vê essa responsabilidade?
Longe de mim a pretensão de querer nacionalizar o PSDB. O PSDB já é um partido há muitos anos nacionalizado. Foi criado um estereótipo de o PSDB ser paulista devido ao fato de São Paulo ser o principal centro que mantemos um governo há muito mais tempo que qualquer outro Estado. Temos uma percepção clara dentro da bancada de que o PSDB é um partido absolutamente consolidado do ponto de vista nacional. É fato que a decisão de se optar por um deputado pernambucano é para que haja também oportunidade de nosso núcleo de discussões seja mais arejado com a participação de outros estados da federação. Vamos tentar também ajudar, nesse sentido, por termos menos envolvimento emocional com as decisões internas de São Paulo e Minas Gerais e contribuir com uma participação maior da bancada federal no conjunto das decisões do partido.

Como vai ser seu trabalho na oposição?
Eu acho que o nosso papel é permitir que o PSDB continue passando para o eleitor brasileiro que está apto a ser uma alternativa de poder. Nós não vamos ter 100 milhões de eleitores em 2014, sentados, esperando o que o PSDB vai oferecer. Para nós estarmos em 2014 oferecendo ao eleitor brasileiro as chances de ver no PSDB uma alternativa de gerenciar os destinos do País, temos que realizar nosso trabalho, além da qualidade do candidato que apresentaremos. Significa uma manutenção ao longo de todo esse tempo. Não só sermos um partido que enfrenta as questões como um contraponto nas avaliações que achamos que devem ser feitas em relação ao Governo, como também ter uma participação maior na apresentação de propostas. Repetindo sempre: mais do que um partido de oposição, nós temos que nos firmar como partido de posição clara, em que o eleitor brasileiro saiba o que o PSDB pensa em relação às principais temáticas do País.

Como estão as conversas no partido com vistas em 2014?
Nós acompanhamos as declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em relação ao nosso processo interno. Há uma percepção clara no partido que a nossa decisão sobre o nosso candidato a presidente não se dará tardiamente como se deu em 2010. Seguramente ela será tomada com bastante antecedência em relação ao que houve na última eleição. Mas até a eleição municipal, o nosso foco é fortalecer as candidaturas nas capitais e municípios com mais de 200 mil eleitores e ajudarmos os candidatos do PSDB em cidades estratégicas do País e o partido como um todo. Passada a eleição, o presidente Sérgio Guerra deve dar por aberto esse processo de definição do nome de 2014.

O senhor tinha demonstrado interesse em disputar a Prefeitura do Recife. Como ficam esses planos?
Quando teve início a movimentação que fizemos no ano passado em relação à pretensão de disputar a Prefeitura do Recife, já havia em curso uma discussão interna na bancada para que eu pudesse, eventualmente, vir a colaborar com o partido nacionalmente na condução da bancada em Brasília. Ao longo do ano, foi ficando claro para mim que isso iria se consolidar, e, uma vez se confirmando esse compromisso com a bancada, eu preciso cumprir essa atenção que a bancada federal teve no sentido de fazer a escolha do meu nome para colaborar com o partido ao longo deste ano. O projeto de eleição majoritária vai ficar para outro momento. E obviamente estou completamente integrado ao nosso projeto de eleição do nosso nome no Recife que é o do deputado estadual Daniel Coelho.

Em sua opinião, que estratégia deve ser adotada pela oposição no Recife para ganhar a eleição?
A tendência é que tenhamos, no mínimo, dois candidatos. As histórias de eleições de segundo turno para os partidos que estão na oposição sempre mostra, como regra geral, positivo que haja uma pulverização de candidaturas nas oposições. Eu acho que a fragmentação, não a divisão política do compromisso de oposição, mas a pulverização de candidatos, pode ajudar a garantir a consolidação de um segundo turno e isso, eventualmente, colocaria as oposições em uma situação bem mais privilegiada, podendo até se tornar favorita.

Como o senhor vê a gestão do prefeito João da Costa?
Eu acho que essa opinião não é minha, é o que se materializou em todos os segmentos sociais. Desde o prefeito Augusto Lucena (1971-1975), onde se faz acompanhamento científico de pesquisa de opinião, a cidade do Recife, antes da atual gestão, sempre se caracterizou por apresentar ao País os melhores prefeitos de capitais. A atual gestão inaugura uma surpresa negativa. Pela primeira vez, em décadas, as pesquisas de opinião configuram um prefeito mal avaliado e que não assumiu uma postura de autoridade político-administrativa em relação à cidade.

(Da redação com informações da “Folha de Pernambuco”/ Foto: Beto Oliveira – Ag. Câmara)

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31 janeiro, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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