Um governo de consultores


Titular do Desenvolvimento repete padrão comum a autoridades petistas: confundir interesses públicos com privados

Está difícil Fernando Pimentel demonstrar, sem deixar muitas dúvidas pelo caminho, como e por que faturou milhões como consultor nos últimos dois anos. Na avaliação da carta de mobilização política desta sexta-feira (9), o ministro do Desenvolvimento repete um padrão comum a autoridades petistas: o de confundir a esfera dos interesses públicos com a dos ganhos privadas. “Pimentel e Antonio Palocci não estão sozinhos: pelo menos outros quatro ministros de Dilma Rousseff também mantinham consultorias ativas”, diz trecho do documento editado pelo Instituto Teotônio Vilela. Leia abaixo a íntegra:

Fernando Pimentel até tem tentado, mas está difícil demonstrar, sem deixar muitas dúvidas pelo caminho, como e por que faturou milhões como consultor desde que deixou a prefeitura de Belo Horizonte. O ministro do Desenvolvimento repete um padrão comum a autoridades petistas: o de confundir a esfera dos interesses públicos com a dos ganhos privadas.

Em tese, não haveria nada de errado em o ex-prefeito atuar como consultor para “ganhar a vida”, como disse Pimentel numa de suas primeiras tentativas de explicar-se. O diabo aparece quando se examina como esta doce vida foi, digamos, ganha. Até agora, o ministro só conseguiu mostrar que recebeu, mas não apresentou nada que tenha dado em troca.

As principais suspeitas são de que Pimentel traficou interesses de seus clientes dentro do governo, tanto o de Belo Horizonte quanto o federal. Enquanto se apresentou como consultor, ele ainda tinha pleno domínio sobre a máquina da capital mineira e, em 2010, já despontava como possível homem forte da gestão Dilma Rousseff – o que se confirmaria ao longo deste ano.

Em situação assim, sua “consultoria” passou a valer milhões. Dinheiro grosso que entidades como a Fiemg, de onde saiu o hoje presidente da CNI, e algumas empresas se dispuseram a pagar de bom grado. Em atitude distinta da de Antonio Palocci, Pimentel revelou quem foram seus clientes. Só não conseguiu mostrar – por um papelucho que seja – a troco de que foi tão bem pago.

O caso começou com a divulgação, no início da semana, por O Globo, de que Pimentel embolsara R$ 2 milhões nos dois anos entre a saída da prefeitura e a posse no Ministério do Desenvolvimento. Entre os clientes estavam, além da Fiemg, a Convap Engenharia, que tem contratos polpudos com a prefeitura de BH firmados pela gestão Márcio Lacerda, sucessor de Pimentel.

Soube-se depois que outra empresa, a QA Consulting, também “contratara” a P-21, a consultoria de Pimentel. Coincidentemente, dois dias depois de pagar o trabalho do ex-prefeito, a QA fechou um contrato com a HAP Engenharia, que tem negócios milionários com a prefeitura de Belo Horizonte, é acusada de superfaturar obras e desviar recursos para a campanha do petista em 2004.

Para completar o novelo, uma empresinha que vendia guaraná no Nordeste surgiu ontem na lista de “clientes” de Pimentel. Sem, porém, que nenhum de seus atuais sócios fizesse ideia do que se tratava. Hoje, a Folha de S.Paulo revela que, no mesmo mês em que a ETA Bebidas do Nordeste pagou pela consultoria da P-21, o governo de Pernambuco – governado por um aliado de primeira hora de Pimentel – concedeu-lhe incentivo fiscal.

O Estado de S.Paulo, em sua edição desta sexta-feira, levanta suspeita sobre a relação entre a principal financiadora de Pimentel na campanha ao Senado no ano passado, a Camargo Correa, e robustos contratos firmados pela empresa com a prefeitura da capital mineira na gestão do petista.

A construtora doou R$ 2 milhões dos R$ 8,7 milhões declarados à Justiça Eleitoral pelo candidato do PT a senador por Minas. O Ministério Público investiga a empresa por causa de um contrato de R$ 166 milhões para construir moradias populares e urbanizar uma favela em Belo Horizonte.

Apresentado como um dos mais vistosos cartões de visita da gestão Pimentel na prefeitura, o programa Vila Viva teria resultado em apartamentos com custo unitário de até R$ 200 mil. O inquérito civil que apura o caso foi aberto em novembro de 2010 após denúncia levada aos promotores pelo ex-vereador tucano Antônio Pinheiro.

Fernando Pimentel repete Antonio Palocci. Mas os dois não os únicos consultores em atividade na equipe de Dilma. Em maio, O Estado de S.Paulo revelara que “pelo menos” cinco ministros tinham empresas de consultoria que “continuam ativas em pleno exercício do cargo”. Além do ministro do Desenvolvimento, os demais eram: José Eduardo Martins Cardozo (Justiça), Moreira Franco (Assuntos Estratégicos), Leônidas Cristino (Portos) e Fernando Bezerra Coelho (Integração).

Desde que chegou ao poder, há quase nove anos, o PT especializou-se em turvar os limites entre o público e o privado. Foi nesta zona cinzenta que o mensalão encontrou condições ideais para vicejar. A cada novo episódio de corrupção revelado, o padrão se repete: o partido que sempre disse ter nascido para defender os interesses do povo avança, sem limites, sobre as delícias do poder.

Pode não haver nada ilegal na atuação da consultoria de Fernando Pimentel, mas nada sobre suas realizações que vieram a público até agora parece moralmente defensável. Há um claro conflito de interesses entre a atividade do consultor e a função que exerce o homem público.

(Fonte: ITV/ Foto: Wilson Dias – ABr)

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9 dezembro, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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