Crise política

Planalto desmoraliza Comissão de Ética da Presidência ao manter Carlos Lupi

A decisão da presidente Dilma de manter o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, desmoraliza a Comissão de Ética Pública da Presidência, que recomendou a exoneração do pedetista. Essa é a avaliação do líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), e do deputado Antonio Imbassahy (BA). “Ou Dilma demite o ministro ou dissolve o conselho de ética. Quando um líder perde a autoridade, os subordinados perdem o respeito”, resumiu Nogueira.

Ontem, o tucano já havia afirmado que o pedido torna “insustentável a permanência dele na pasta”, além de comprovar a inexistência da prometida faxina. A solicitação de afastamento foi baseada em representação protocolada em 16 de novembro pelo líder. No documento, Nogueira destaca que o art. 7º do Código de Conduta da Alta Administração Federal proíbe que autoridades do Executivo de recebam “transporte, hospedagem ou favores de particulares”.

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A revista “Veja” revelou que o ministro teria viajado em avião pago por ONGs que receberam, posteriormente, verbas de convênios com a pasta. O episódio foi seguido por uma sequência de contradições. Após o assunto vir à tona, Lupi negou conhecer o empresário Adair Meira, em depoimento na Câmara. Logo depois, no Senado, voltou atrás e afirmou não ter decorado o nome dele. Meira, por sua vez, admitiu ter bancado o fretamento de aeronave.

Imbassahy condenou a decisão da petista de ignorar as numerosas evidências de corrupção contra o titular do Trabalho. “É inacreditável que nada aconteça. É melhor extinguir o conselho. A presidente deve ter motivos fortes para manter Lupi. Isso é um acinte, um deboche, um desrespeito com a opinião pública”, reprovou.

Após se reunir com o assessor, Dilma enviou ofício ao colegiado solicitando os argumentos que embasaram a recomendação da demissão. Segundo a ministra da Secretaria de Comunicação, Helena Chagas, o caso foi tratado com naturalidade pela presidente.

As denúncias contra o pedetista não param de surgir. Nesta quinta, o jornal “Folha de S.Paulo” revelou que ele ocupou, simultaneamente, um cargo no Congresso Nacional e outro na Prefeitura do Rio de Janeiro durante cinco anos. A prática é proibida pela Constituição Federal.

Medida inédita

→ Em decisão unânime e inédita, os sete conselheiros da Comissão de Ética Pública da Presidência recomendaram ontem à presidente Dilma Rousseff a exoneração do ministro Carlos Lupi. No entanto, o conselho não tem poder para obrigar a petista a aceitar a manifestação.

→ O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que a posição do colegiado é “extremamente relevante”. Ele destacou a qualidade, a isenção e a prudência dos componentes da comissão. “No plano ético, o que mais se afirmou é a inconveniência da permanência dele”, disse Gurgel.

(Reportagem: Alessandra Galvão / Fotos: Beto Oliveira e Paula Sholl / Áudio: Elyvio Blower)