Aparelhamento nefasto


Paulo Abi-Ackel: “Dever da oposição é defender interesses da sociedade”

Em entrevista ao portal “Veja.com”, o líder da Minoria da Câmara, Paulo Abi-Ackel (MG), destacou o trabalho da oposição em debater no Congresso temas relevantes para a população. “É nosso dever defender uma pauta que seja de interesse da sociedade”, ressaltou. O deputado apontou a má influência do PT no espaço político brasileiro. De acordo com ele, o aparelhamento promovido pela gestão petista foi “nefasto” para o país. O tucano criticou também o uso descontrolado das medidas provisórias pelo Planalto. Para ele, o instrumento é prejudicial à democracia e à estabilidade política.

Confira os principais trechos da entrevista:

Liderança da Minoria
“Sem dúvida, sentimos muito a força da maioria e nem sempre é possível passar do discurso para um resultado de votação. Mas, com nossos argumentos, temos conseguido tencionar em alguns momentos o debate a ponto de fazer com que a opinião pública tenha um maior conhecimento a respeito das matérias que estão sendo votadas. Temos defendido as prerrogativas do Congresso Nacional num momento em que, com essa enorme maioria, o governo, não enfrentando obstáculo, com certeza estabeleceria uma agenda exclusivamente de acordo com o gosto da presidente da República. É nosso dever defender uma pauta que seja de interesse da sociedade.”

Desempenho da oposição no primeiro ano de mandato de Dilma Rousseff
“Foi um ano em que tivemos vitórias. Conseguimos pautar e, em alguns momentos, vencer o governo, como na ocasião da Emenda 29, que pretendia recriar a CPMF. Recentemente, conseguimos impedir que o governo fizesse uso da ampla maioria para desrespeitar o regimento, na tentativa de quebra do interstício na votação da Desvinculação das Receitas da União. Tivemos bons momentos em votações de grande relevo, mas, sobretudo, na mesa de entendimentos para a pauta do Congresso.”

Prioridades da oposição para 2012
“Gostaríamos de ver o Congresso trabalhando com uma pauta de interesse da sociedade, e não apenas do governo. Esse foi um grande problema que o Parlamento teve nesses nove anos: o gigantesco volume de Medidas Provisórias, boa parte versando sobre assuntos que não têm relevância e urgência e tratando de temas diferentes ao mesmo tempo. Isso é algo funesto para a democracia e a estabilidade política. O ideal seria poder votar as reformas estruturais: tributária, trabalhista, da Previdência e do Judiciário. O governo não apresentou planos estratégicos para educação, saúde, segurança pública, combate ao tráfico de drogas e de armas, infraestrutura, sucateamento da indústria. Outro aspecto é a reforma do pacto federativo. É uma enorme frustração para nós ao final do ano verificar que não discutimos esses assuntos.”

Falta vontade política para votar reforma tributária
“Não consigo enxergar pertinência no argumento do governo sobre a dificuldade de enfrentar a discussão da reforma tributária num país em que os pobres pagam mais impostos do que os ricos. Hoje, os 10% mais pobres comprometem 33% dos seus rendimentos com tributos, enquanto os 10% mais ricos pagam 22%. Se no primeiro semestre do ano a presidente tem toda a condição política de enfrentar esse tipo de discussão e renuncia a esse debate, é óbvio que logo se impõe uma agenda negativa sobre o governo. Foi o que aconteceu. A agenda de denúncias acabou tomando conta. Foi importante para constatar que esse aparelhamento promovido pelo governo do PT foi nefasto para o país.”

Modelo de aliança política petista é lamentável
“O modelo adotado pelo governo petista de aliança com os demais partidos em troca de feudos no governo atrai deputados para a base. Isso é lamentável sob todos os aspectos. Exatamente porque temos promovido este debate, denunciado essa pressão sobre o Congresso, é que temos a impressão de que esse modelo começa a ter um enorme desgaste. Seguramente, a maior atenção da imprensa a esses feudos e essa forma de governar o país com o aparelhamento da máquina estão resultando num enorme desgaste para o governo.”

Adesão por interesse atrapalha trabalho
“Há uma atração dos deputados para o governo com a perspectiva de pagamento de emendas. É um modelo que está falido, contra o qual temos lutado muito. Não podemos aceitar esse modelo. Temos que fazer um sistema cuja condição elementar para a nomeação do ministro não seja o partido, mas sim a biografia, o conhecimento, a capacidade de gestão, a eficiência. Precisamos de grandes estadistas sentados na cadeira de ministro e não de ministros representando partidos como se fossem donos de feudos partidários.”

(Da redação/ Foto: Leonardo Prado)

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28 novembro, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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