Propina na bolsa
Câmara livra Jaqueline Roriz de cassação apesar de provas contundentes
O plenário da Câmara absolveu, por 265 votos a 166, a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF). O relator do caso, deputado Carlos Sampaio (SP), defendeu a cassação por considerar a conduta da parlamentar reprovável e indecorosa. Em 2006, ela foi filmada recebendo R$ 50 mil das mãos de Durval Barbosa, operador do esquema de corrupção do Distrito Federal. O líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), orientou a favor da perda de mandato.
Contestando a tese da defesa, Sampaio ressaltou que a Casa tem competência para decidir sobre atos indecorosos realizados antes do início do mandato, como é o caso de Jaqueline. Segundo ele, a deputada foi eleita por duas vezes – como distrital em 2006 e federal em 2010 – sem que a sociedade soubesse da sua participação na fraude. “Se viéssemos a saber hoje que um deputado, em 2002, praticou pedofilia, matou ou estuprou, o que iríamos dizer à sociedade brasileira? O parlamento só soube do caso este ano, então é agora que ele deve se manifestar”, argumentou.
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De acordo com o deputado, a cassação não abriria precedente para a análise de problemas antigos de outros parlamentares. “Eu não traria para dentro desta Casa tamanha intranquilidade jurídica. Estamos falando de um fato pretérito não conhecido”, disse. Para o tucano, assumir tal tese seria negar à Câmara o direito de opinar sobre a conduta indecorosa de seus integrantes.
Sampaio lembrou que, na época do escândalo, Jaqueline divulgou uma nota afirmando que o dinheiro flagrado nas imagens foi usado como “caixa dois”. No vídeo, ela aparece pedindo a Durval ajuda para conseguir mais verba, gasolina e influência em rádios. “A postura dela não foi a de quem ia receber a quantia lícita de uma empresa”, afirmou o tucano.
Quando era deputada distrital, Jaqueline presenciou o julgamento de Eurides Brito, cassada por participação no mesmo esquema. Na época, Jaqueline acusou a colega de ser “cara de pau” e “mau-caráter”. “Quanta desfaçatez chamar de cara de pau, de mau-caráter, pedir a CPI, dizer que a cidade sangra por alguém que cometeu uma conduta idêntica à dela, valendo-se única e exclusivamente do privilégio de que suas imagens não tinham vindo à luz ainda! Vieram neste ano, e agora ela quer dividir esse desgaste com esta Casa”, disse.
Em entrevista à Agência Câmara, o tucano atribuiu a absolvição ao voto secreto. “Ela conseguiu dividir o ônus de seu comportamento com todos os deputados da Câmara”, afirmou. O deputado Vanderlei Macris (SP) revelou ser favorável à perda do mandato e defendeu o fim do voto secreto. “O Conselho de Ética, que esteve debruçado três meses nessa investigação, votou abertamente. O plenário, sob o manto do segredo, vai absolver a acusada depois de todas as provas? Quando votamos às escondidas, tudo é possível no parlamento”, alegou.
(Foto: Rodolfo Stuckert/Ag. Câmara/Áudio: Elyvio Blower)
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