Os sete meses de Dilma: inflexões e limites, por Marcus Pestana


Já se vão sete meses e meio de governo Dilma. Passado o período conhecido como “lua de mel” e esgotado mais de um semestre de trabalho efetivo, já é possível captar a essência desse governo e avaliar as linhas de continuidade e mudança em relação a Lula.

Todos sabem que Dilma chegou à Presidência pelas linhas tortas do destino e nas asas de um líder carismático e popular. Os candidatos do PT à sucessão de Lula eram José Dirceu e Palocci, que naufragaram no meio da travessia. Dilma sequer era do PT, já que militou, no período da redemocratização, no PDT. Era uma técnica, com passado ligado às lutas contra a ditadura, mas sem nenhuma vocação política pronunciada. Carisma não era o seu forte. Virou candidata por obra e graça de seu padrinho político. Preocupava sua inexperiência política, possíveis resquícios esquerdistas herdados do foquismo de 68 e os traços pessoais autoritários amplamente conhecidos.

Dilma recebeu herança nada tranquila de Lula. Restos a pagar, inéditos a sobrecarregar seu primeiro orçamento, inflação ameaçando fugir do controle, base de apoio excessivamente heterogênea e viciada na cultura patrimonialista e clientelista, máquina inchada com inéditos 37 ministérios e a sombra permanente de seu antecessor, o maior líder popular da história política brasileira.

É preciso reconhecer que Dilma produziu algumas inflexões importantes no estilo e na prática governamentais. Em primeiro lugar a guinada na política internacional, retomando o velho e bom pragmatismo do Itamarati, abandonando a ênfase em aliados complicados como Cuba e Irã e melhorando o diálogo com os países centrais. Gesto emblemático dessa nova fase foi o convite feito a todos os ex-presidentes, inclusive os oposicionistas Fernando Henrique e Itamar Franco, para a recepção a Obama, em sua visita ao Brasil.

Em segundo lugar, cabe registrar a mudança no tratamento a FHC e à herança dos tucanos no governo. Sua carta de saudação aos 80 anos de FHC colocou em novos termos a avaliação da bendita herança do Plano Real e da modernização da economia promovida. Dilma localizou corretamente as raízes da consolidação da democracia, da estabilização da economia e da redistribuição de renda no governo tucano. Isso sensibilizou as oposições e o PSDB, e incomodou o PT.

Por último, no campo das inflexões, a mudança de atitude e postura pessoal. Ao invés daquela verborragia amazônica dos três discursos diários de Lula, dos quais, ao sabor das emoções e humores do líder de massas, brotavam afirmações livres e imprecisas, às vezes completamente inadequadas ao discurso presidencial, sobre os mais variados temas, Dilma introduziu um estilo mais austero, que recupera a liturgia do cargo, evitando improvisos e imprecisões, como menos exposição do que a overdose anterior e mais foco na gestão cotidiana dos assuntos de Estado.

Na próxima semana, falaremos do que, na minha visão, não vai nada bem.

(*) Marcus Pestana é deputado federal pelo PSDB-MG. Artigo publicado no jornal “O Tempo” em 15/08/11.

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16 agosto, 2011 Artigosblog Sem commentários »

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