Leilão fracassado


ITV: no sonho petista, o trem-bala pode se revelar um trem pagador recheado de dinheiro

Em sua Carta de Formulação e Mobilização Política desta terça-feira (12), o Instituto Teotonio Vilela afirma que o governo deveria aproveitar o fracasso do leilão do trem-bala para abandonar a ideia de torrar bilhões num empreendimento que ainda não comprovou ser viável. “Mas nada indica que a gestão Dilma Rousseff esteja buscando formas mais eficientes de investir o dinheiro arrecadado do contribuinte. Pelo contrário: parece que o que interessa mesmo é ter nas mãos um contrato bem polpudo. No sonho petista, o trem-bala pode se revelar um trem pagador”, diz trecho do documento do órgão de estudos políticos do PSDB. Leia a íntegra abaixo:

Descarrilou mais uma tentativa da gestão petista de fazer a concessão do trem-bala ligando Campinas ao Rio de Janeiro. O governo deveria aproveitar o fracasso do leilão ocorrido ontem para abandonar a ideia de torrar dezenas de bilhões de reais num empreendimento que ainda não comprovou ser viável, mas já anunciou que irá insistir na aventura. Talvez esteja em busca de um trem pagador.

Como nenhum interessado apresentou propostas na terceira tentativa de licitar a obra, a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) anunciou que adotará novo modelo de concorrência. A licitação será fatiada em duas etapas, a serem realizadas ao longo de 2012.

Na primeira fase, será feito leilão para contratar o consórcio detentor da tecnologia, que também será responsável pela operação do trem-bala. Quem vencer será responsável por elaborar os projetos básico e executivo com base na tecnologia escolhida.

No segundo leilão será escolhido o concessionário responsável pela execução das obras e a manutenção da infraestrutura pelo prazo de 40 anos. O governo espera maior concorrência entre os interessados, principalmente entre empreiteiras estrangeiras.

Se tudo isso vingar, as obras propriamente ditas só devem começar em 2013. Assim, está sepultada a chance de o trem de alta velocidade (TAV) ligando as duas principais metrópoles brasileiras estar pronto a tempo das Olimpíadas de 2016 no Rio. Pela previsão atual, o trem-bala só deve ser concluído em 2018. (Vale lembrar que, no início, o governo julgou que poderia ter o trem rodando já na Copa de 2014…)

O fracasso de ontem era esperado. Como, mesmo com os pedidos de novo adiamento feitos por vários interessados, o governo insistiu em prosseguir com o certame, abria-se a possibilidade de uma saída honrosa: sem concorrentes, ficaria mais fácil aposentar de vez o projeto. Mas ontem mesmo as autoridades divulgaram que a carreira do trem-bala continua.

O governo petista trata o TAV como quem está brincando de trenzinho de ferro. Um projeto que começou orçado em R$ 19 bilhões já é estimado em R$ 33 bilhões, mas poucos creem que seja possível fazê-lo por menos de R$ 55 bilhões. Tamanha discrepância de orçamentos poderia até ser vista como, digamos, “detalhe” se não houvesse grosso dinheiro público envolvido na operação.

Do valor total, o BNDES deve financiar R$ 22 bilhões e pode injetar mais R$ 5 bilhões a título de subsídio. A estatal Etav, já criada por medida provisória, investirá outros R$ 3,4 bilhões – o que equivale ao dobro do investimento público feito em ferrovias no país nos últimos dez anos!

Com o novo desenho, abre-se, porém, a possibilidade de ainda mais dinheiro público engordar o trem-bala. “A União assumirá mais riscos e, pela primeira vez, não descarta o desembolso de recursos públicos na fase das obras se o projeto de construção for orçado em mais do que R$ 23 bilhões – hipótese admitida pelo governo”, informa O Globo.

Ninguém é contra o país dispor de modernas formas de transporte, como pode vir a ser o caso do trem-bala. O que se discute é a oportunidade de se fazer isso. Estudo feito pelo Ipea no ano passado estima que, com o que se pretende gastar com o TAV, daria para construir 10 mil km de ferrovias, expandindo em um terço a nossa malha atual.

Alternativamente, seria possível instalar 300 km de metrô nas regiões metropolitanas, beneficiando 15 milhões de pessoas por dia. Ou, ainda, daria para construir uma ferrovia convencional entre Campinas e o Rio, com velocidade de 160 km/h, gastando de 25% a 60% do que se pretende torrar com o trem-bala.

Nada indica, porém, que o governo Dilma Rousseff esteja buscando formas mais eficientes de investir o dinheiro arrecadado do contribuinte. Pelo contrário. A julgar pelo histórico de descalabros que grassa no setor de transportes, parece que o que interessa mesmo é ter nas mãos um contrato bem polpudo, atalho ideal para abrigar uma farra de aditivos e desvios. No melhor sonho petista, o trem-bala pode se transformar num trem pagador, recheado de dinheiro e pronto para ser tomado de assalto.

(Fonte: ITV)

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12 julho, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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