A melhor saída, por Marcus Pestana


Assistimos nas últimas semanas à precoce crise do governo Dilma. Logo após o período conhecido como “lua de mel”, Dilma se viu em situação preocupante que combinava ameaça de descontrole inflacionário, desastrosa condução na votação do Código Florestal e conflitos com a bancada evangélica. Para agravar o “inferno astral”, o principal ministro do governo foi colocado em xeque, quanto a práticas questionáveis no período em que Palocci era deputado, coordenador da campanha de Dilma e da transição governamental.

Considero Palocci o melhor quadro do PT depois do ex-presidente Lula. Foi ele o grande fiador da equipe econômica para que, numa brusca virada em relação ao programa histórico do PT, fossem mantidas as bases do Plano Real. Um quadro mais experimentado inclusive que a própria presidente Dilma, que chegou ao poder fruto de uma série de acidentalidades da era pós-mensalão. Se não fossem José Dirceu e Francenildo, Palocci provavelmente ocuparia a cadeira presidencial.

As informações de que Palocci teria multiplicado por vinte seu patrimônio, realizado compras imobiliárias milionárias e faturado cerca de R$ 20 milhões só em 2010 caíram como bomba num quadro já explosivo. O silêncio eloquente e retumbante, por três semanas, agravou a situação. A entrevista ao “Jornal Nacional” pouco ajudou. Não é crime ficar rico. O problema é a prática incestuosa e não republicana misturando público e privado. Uma coisa é vender cimento, carros ou alimentos. Outra é vender serviços de consultoria. Como faturar R$ 20 milhões em consultoria, quando coordenava uma campanha, e R$ 10 milhões, de novembro a dezembro, quando, como coordenador da transição, tinha acesso a informações estratégicas e sigilosas? Houve ou não tráfico de influência e lobby ilegítimo?

Some-se a isso a intervenção desastrosa do ex-presidente Lula, que em dois dias em Brasília minou a autoridade de Dilma e aguçou as dúvidas sobre sua real aptidão para a Presidência da República.

Ressalte-se que não falamos da discussão levantada sobre os conselhos de Maquiavel ao Príncipe: “Os fins justificam os meios.” Nada a ver com o que nos fala Weber sobre ética de responsabilidade e ética de convicções. Bobbio clareou que o caráter amoral da política introduzido por Maquiavel tem a ver com objetivos de Estado e com conquistas da sociedade, e não com enriquecimentos individuais e objetivos particulares. A licença moral dada aos poderosos é para realizar grandes feitos. Não para incrementar faturamentos improváveis ou para a compra de apartamentos milionários. Em nome da ética e em favor da governabilidade o afastamento de Palocci foi importante. Foi bom para o país, para a sociedade e para o próprio governo Dilma.

(*) Marcus Pestana é deputado federal e presidente do PSDB-MG. Artigo publicado no jornal “O Globo” em 12 de junho de 2011.

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13 junho, 2011 Artigosblog Sem commentários »

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