Presidente teleguiada
Ao tentar defender Palocci, Dilma dedicou-se muito mais a confundir do que a explicar
Onze dias depois de revelado o espetáculo do crescimento do patrimônio de Antonio Palocci, Dilma Rousseff saiu do armário para defendê-lo. No entanto, segundo a carta de mobilização política do Instituto Teotônio Vilela desta sexta-feira (27), a petista “dedicou-se muito mais a confundir do que a explicar”. Ainda de acordo com o ITV, a presidente da República só fez reproduzir os mesmíssimos argumentos que Lula pôs para circular no mundo político nos últimos dias. “Portou-se como boneco de ventríloquo e reforçou a percepção de que sua vocação é sempre ser teleguiada”, critica o órgão de estudos políticos do PSDB. Leia a íntegra abaixo:
Onze dias depois de revelado o espetáculo do crescimento do patrimônio do ministro Antonio Palocci, Dilma Rousseff saiu do armário ontem para defendê-lo. Não foi, convenhamos, uma defesa das mais enfáticas; as atitudes e os argumentos usados foram canhestros. A presidente da República portou-se como boneco do ventríloquo Lula.
Dilma só fez reproduzir os mesmíssimos argumentos que o ex-presidente pôs para circular no mundo político nos últimos dias. Seguindo a velha tática diversionista do PT, culpou a oposição pela revelação de que seu ministro da Casa Civil ficou milionário quando era deputado. Acusou os oposicionistas de “politizarem” o caso. Nada que corresponda à realidade.
A presidente da República usou ontem mesmíssimas frases empregadas por seu chefe de gabinete dois dias antes atrás. Tanto quando seu subordinado, ela agiu a mando de Lula, chancelando a leitura corrente de seu apequenamento precoce no cargo mais importante da República.
Disse ela ontem, segundo O Globo: “Agora se negam a discutir o vazamento dos sigilos e só querem discutir o conteúdo dos sigilos”. Dissera Gilberto Carvalho na terça-feira: “Em 2010 houve a quebra de sigilo dos dados de familiares de (José) Serra e o foco do noticiário foi a quebra de sigilo em si, e não o conteúdo. Agora é tudo para o conteúdo e nada para a quebra de sigilo”.
Será que Dilma não tem um pingo de luz própria? Será que, a cada crise, precisará chamar o síndico para dar bronca nos vizinhos do condomínio de poder? Recusará a dar transparência à administração, usando as mesmas manobras que notabilizam seu partido?
Em sua primeira manifestação após a divulgação de que o patrimônio de Palocci multiplicou-se – na melhor das hipóteses – por 20 em quatro anos, a presidente sequer se comprometeu com a integridade do seu principal ministro. Ela afirmou apenas assegurar que ele “está dando todas as explicações necessárias”. A quem?
Até agora, a única coisa que Palocci fez foi divulgar uma nota na qual dizia que fez o mesmo que outros fizeram – sem considerar que a condição dos outros não era a de todo-poderoso junto ao governo de plantão. Ontem, na “defesa” que apresentou aos senadores, também confirmou que, sim, foi muito bem pago para dar conselhos a ricaços quando era deputado.
A presidente acusou a oposição de estar buscando um “terceiro turno”, politizando o caso. Nada mais falso. O que a oposição fez até agora foi tentar investigar – coisa que o governo fez de tudo para impedir. “Cada requerimento negado, cada CPI sepultada é um tijolo a mais no edifício da suspeita”, escreve Fernando Gabeira no Estadão.
Ressalte-se que as revelações sobre o show dos milhões de Palocci foram feitas pela imprensa e nunca foram negadas por ele. “As duas revelações fundamentais do novo caso Palocci – a compra multimilionária de imóveis e a colheita gênero megassena logo em seguida à eleição de Dilma – foram publicadas pela Folha e elaboradas como notícias objetivas. Sem qualquer extrapolação excedente aos fatos”, comentara Janio de Freitas ontem na Folha de S.Paulo.
Na realidade, para tentar se defender o governo começou a praticar nesta semana um expediente típico de quem está metido em enrascada, o chamado “spin”. É uma forma de torcer a informação de forma a torná-la conveniente a seus interesses. Como estava encurralado, sob fogo de seus próprios “amigos”, o governo passou a, dia após dia, tentar desviar o foco para a oposição.
“Numa conjuntura em que a oposição não tem número sequer para aprovar um requerimento, a iniciativa [de culpar a oposição], além de desprovida de foco, é um acinte à inteligência dos aliados governistas”, comenta Maria Cristina Fernandes no Valor Econômico.
As suspeitas quanto à atipicidade das atividades de Palocci estão longe de ser vãs, como fica mais uma vez claro hoje com a notícia, publicada pela Folha, de que o Ministério Público Federal abriu investigação para investigar se o ministro enriqueceu ilicitamente. “O foco da ação é apurar se a evolução patrimonial do ministro é compatível com os ganhos de sua empresa. Caso contrário, Palocci pode responder por improbidade administrativa”.
Ele terá 15 dias para enviar cópia da declaração do imposto de renda da sua empresa de consultoria aos promotores. A Projeto terá que informar a relação de seus clientes e serviços prestados, com cópia de pareceres e registros de reuniões. Numa outra frente, investiga-se a prática de tráfico de influência, o que ensejaria investigação na área criminal.
Como se vê, o caso cresce – e não é por culpa da oposição, mas dos fatos. Dilma Rousseff demorou a dirigir-se à nação num episódio da mais extrema gravidade. Quando o fez, dedicou-se muito mais a confundir do que a explicar. Fez, ela sim, politicagem. Lançou acusações vazias, portou-se como se estivesse em cima de um palanque. Fez tudo como mandou o chefe e reforçou a percepção de que sua vocação é sempre ser teleguiada.
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