Proteção suspeita
Imensa base parlamentar de Dilma está sendo usada para impedir investigação de escândalos, diz ITV
A Carta de Formulação e Mobilização Política desta quinta-feira (19) afirma que a imensa base parlamentar da presidente Dilma Rousseff está sendo usada para evitar que escândalos sejam investigados e impedir que a sociedade saiba o que ocorre nas entranhas do poder petista. De acordo com o documento do Instituto Teotônio Vilela, tudo indica que a evolução patrimonial de Antonio Palocci supera a escalada configurada nos imóveis de luxo. “Deve ser por saber que há muito mais a ser revelado que o governo do PT manobra com tanto vigor para abrir o caso à ação desinfetante da luz do sol”, diz o órgão de estudos políticos do PSDB. Leia a íntegra abaixo:
Blindagem do Palocci
Para que serve uma base parlamentar do tamanho de um bonde, como a de que dispõe a presidente Dilma Rousseff? A resposta foi dada ontem, numa deprimente exibição na Câmara dos Deputados: para evitar que escândalos e malfeitos sejam investigados, para impedir que a sociedade saiba o que ocorre nas entranhas do poder petista.
O governo acionou seu trator ontem, mas nada disso foi suficiente para deter as suspeitas em torno do espetáculo de crescimento da riqueza de Antonio Palocci, que a cada dia se avolumam. Tudo ainda está por ser esclarecido e nada até agora foi elucidado, embora o governo esperneie para encerrar o caso na marra.
Dia após dia vai ficando mais difícil ao ministro se explicar. Um novo ingrediente foi adicionado ao escândalo hoje: informa O Estado de S.Paulo que a Projeto, firma de Palocci, fez uma operação financeira suspeita na compra de um imóvel de uma empresa que estava sob investigação policial. A movimentação foi identificada pelo Coaf e informada à Polícia Federal há cerca de seis meses, a partir de dados repassados pelo banco que intermediou a transação financeira.
“O comunicado do Coaf à PF se enquadra no tipo de ‘movimentação atípica’, ‘operação suspeita’. Funciona da seguinte maneira: os bancos informam ao Coaf sobre transações financeiras fora do padrão. Em cima dessas informações, o órgão da Fazenda repassa à PF e ao Ministério Público relatórios quando uma empresa ou uma pessoa sob investigação aparece nos comunicados dos bancos. No caso de Palocci, o nome da Projeto surge nas transações atípicas envolvendo uma empresa que está sob investigação pela PF”, informa o jornal, em manchete.
Tudo indica que, possivelmente, a evolução patrimonial do todo-poderoso ministro de Dilma supera em muito a escalada configurada no apartamentão de luxo de R$ 6,6 milhões e no escritório de quase R$ 1 milhão. Mais: se, formalmente, a Projeto dedica-se hoje apenas à “administração de imóveis” – os dois acima citados –, conta com uma gestora contratada para cuidar de seus demais recursos financeiros.
Na mensagem enviada aos líderes parlamentares na terça-feira, Palocci informa que “a gestão dos recursos financeiros da empresa [a Projeto] foi transferida a uma gestora de recursos, que tem autonomia contratual para realizar aplicações e resgates”. Admite, pois, que sua fortuna deve ser muito maior, a ponto de justificar sua terceirização para a tal gestora (o Bradesco, segundo Sepúlveda Pertence).
“Durante os quatros anos como deputado, de 2007 a 2010, o hoje ministro teve também ganhos em dimensão que justifica a entrega, sob a forma de ‘recursos financeiros’ e não de imóveis, à gestão de empresa especializada ‘com autonomia para aplicações e resgates’, como é próprio de patrimônio em títulos ou espécie”, observa Janio de Freitas na Folha de S.Paulo.
Deve ser por saber que há muito mais a ser revelado que o governo do PT manobra com tanto vigor para conter as investidas da oposição para investigar o caso e abri-lo à ação desinfetante da luz do sol.
“Base parlamentar tão ampla e incongruente montada pelo governo Dilma no Congresso não existe para aprovar algum projeto importante e nem mesmo para dar ao governo uma base programática ou ideológica sólida. Existe, sim, para não deixar votar convocações de CPIs que possam colocar o governo em situação delicada ou o convite a ministros que possam se ver em situação delicada, como é o caso de Palocci”, escreve Merval Pereira n’O Globo.
Ontem a sanha anti-investigação foi tanta que a tropa de choque parlamentar ganhou o “reforço” dos leões de chácara que cuidam da segurança do Congresso: a Polícia Legislativa foi usada pelo governo para impedir que deputados da oposição votassem a convocação do ministro.
Num caso único na história recente, salas de comissões foram fechadas e seguranças ficaram na porta para impedir parlamentares de se reunir. A ordem governista era bloquear tudo. Logo às 10h44 a presidente interina da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES), deu início à ordem do dia, algo totalmente atípico para o horário, e suspendeu a sessão de 12 comissões temáticas.
Tudo isso revela temor e fragilidade da parte do governo Dilma. Diz O Globo que “a avaliação entre os principais aliados da presidente é que ela está excessivamente fechada, e seu governo, sem comando na área política”. Até Palocci já recorre a empresas de marketing que se apresentam como especialistas em gestão de crise, informa a Folha.
Quanto mais o ministro-chefe da Casa Civil demorar a explicar-se, mais terá a esclarecer. Sua estratégia de defesa até agora foi meramente de fuga e escapismo. Sua única ação – a divulgação da nota – foi uma tentativa torpe de constranger as críticas. Não colou, e ontem sua assessoria disse ter se “enganado” ao distribuir o texto. Quem não admite mais ser enganada e enrolada é a sociedade, que diz não à blindagem que o Planalto tenta, truculentamente, impor em torno de Antonio Palocci.
(Fonte: ITV)
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