Democracia sob risco


Interferência explícita do Planalto na iniciativa privada é absurda, criticam deputados

Os deputados Antonio Imbassahy (BA) e Raimundo Gomes de Matos (CE) consideraram um absurdo a interferência desenfreada e explícita do governo federal em empresas privadas. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu em audiência pública no Senado que o governo do PT pode retaliar sem cerimônias companhias que não atuam de acordo com os interesses do governo federal.

O caso mais explícito da ingerência estatal é o do presidente da Vale, Roger Agnelli. O executivo deixará o comando da empresa no próximo dia 21 após atritos com governo petista, que pressionou por sua demissão. A saída ocorre um momento em que a Vale atinge lucro recorde no primeiro trimestre do ano, comprovando a sua eficaz gestão. Foram R$ 11,3 bilhões no período – alta de 12,9% ante o quarto trimestre de 2010 e de 292% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. De janeiro a março, o faturamento alcançou R$ 23,6 bilhões. Mesmo com os resultados positivos, a gestão Dilma conseguiu tirá-lo da presidência porque Agnelli não estaria seguindo a cartilha do Planalto.

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Vale não teria alcançado lucro recorde se tivesse atuado como o PT queria, avalia ITV

 Na avaliação de Imbassahy, a posição do ministro causa preocupação aos brasileiros. “Vivemos em um regime democrático, de livre iniciativa. Quando ouvimos um ministro dizer que empresários que não estiverem associados a um pensamento de governo serão retaliados, isso é uma ameaça à democracia. Exigir a retirada do presidente da Vale não corresponde ao momento vivido pelo país”, lamentou. “Interferir numa empresa que vem dando lucros e contribuindo de maneira decisiva para a economia nacional só por interesse partidário é uma afronta à democracia brasileira”, completou.

Para Gomes de Matos, o governo do PT sempre contradiz o que prega e ultrapassa as suas atribuições institucionais ao interferir na iniciativa privada. Para o deputado, isso mostra mais uma vez que o governo não está preocupado com o país, mas apenas com os seus interesses partidários. O tucano acredita que se a empresa estivesse apresentando um resultado negativo, o governo poderia até sugerir alguma ação – mesmo não sendo essa a sua missão -, por se tratar de uma empresa fundamental para o desenvolvimento do país e para a balança comercial.

“Se a Vale não estivesse cumprindo as suas normas, fazendo algum desvio ou dando déficit para o Tesouro, o governo poderia interferir. Mas não é o caso dessa empresa, que vem alcançando um bom desempenho, dando lucro e colocando o Brasil no patamar das mesas internacionais de negociações”, destacou.

Lula e a pressão pelo mau negócio
 → Um dos pontos de atrito de Roger Agnelli com o então presidente Lula foi a encomenda, pela empresa, de 19 navios cargueiros de grande porte na China e na Coreia, e não no Brasil. O primeiro foi entregue ontem. Cada um sairá por US$ 120 milhões. No Brasil, o valor saltaria para US$ 236 milhões, segundo a Vale. Ou seja, o petista queria forçar a companhia a fazer um mau negócio. 

→ O líder do PSDB, senador Alvaro Dias (PR), apresentou requerimento, na Comissão de Assuntos Econômicos para que sejam ouvidos Maria Helena de Santana, presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM); Armínio Fraga Neto, presidente do Conselho de Administração da BM&FBOVESPA; Gilberto Mifano, presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC); e Carlos Antonio Rocca, especialista em mercado de capitais, para que eles falem sobre as implicações, para a economia brasileira, das interferências políticas e partidárias na gestão de empresas estatais e privadas.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Ag. Câmara/Áudio: Elyvio Blower)

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6 maio, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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