Governo está perdido


Explicações de Tombini sobre controle da inflação não convencem, afirmam parlamentares

Em audiência pública, deputados tucanos consideraram insuficientes as medidas adotadas pelo governo para combater a inflação e nada convincente a explicação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, sobre a escalada dos preços. Para os parlamentares, a equipe econômica precisa encontrar uma solução urgente para fazer a inflação convergir ao centro da meta (de 4,5%) e lidar com o fluxo de capitais externos. O mercado financeiro, segundo boletim Focus do Banco Central, estima que a inflação feche o ano em 6,37%, próximo do teto máximo de 6,5%.

Na opinião do deputado Rui Palmeira (AL), a população que vai à feira ou ao supermercado é quem sente realmente a alta da inflação. Ao questionar Tombini, o tucano mencionou reportagem do “Correio Braziliense” que mostra o índice de variação anual de preços com elevação no valor da carne em 21%, do feijão em 6,35% e do óleo em 25%. Segundo Palmeira, as medidas do governo para controlar os preços não surtem efeito, “sobretudo no bolso do trabalhador brasileiro”.

O presidente da autoridade monetária afirmou que as estratégias para controlar a inflação continuam as mesmas. Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na semana passada, o Banco Central destacou o uso de juros como instrumento para segurar a alta de preços. A movimentação foi considerada uma mudança de direção pela entidade, que vinha apoiando ações em medidas macroprudenciais, como restrição ao crédito.

“O cidadão hoje sai desconsolado do supermercado e vai para o posto de gasolina, onde a situação também não é boa. Como exemplo, no ano passado no DF, o litro da gasolina custava R$ 2,64 e hoje custa R$ 2,94”, acrescentou Palmeira. Ele recordou que, em abril, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou em visita aos Estados Unidos que o preço da gasolina não subiria no mês. “Ele se referia ao preço do combustível lá nos EUA, pois aqui o preço disparou.”

Palmeira afirmou ainda que continuará cobrando resposta do governo porque a inflação sobe substancialmente, mas as autoridades demonstram falta de controle da situação. Ele e o deputado Alfredo Kaefer (PR) acreditam que o governo parece perdido em relação à pressão inflacionária, pois Mantega pediu a empresários que “segurem os preços”.

Para Kaefer a solicitação é um sinal perigoso. “Esse era o discurso usado na época do Plano Cruzado. Quando chegamos a esse ponto é porque nos aproximamos da linha do absurdo”, alertou. “A dúvida da volta da inflação é algo que atormenta a todos, pois a estabilidade foi uma conquista da sociedade”, completou. O tucano condenou Tombini por afirmar que a melhor política é intervenção no sistema de câmbio flutuante. Kaefer acrescentou que o discurso é o mesmo do ex-presidente do BC Henrique Meirelles.

Na verdade, em 1999, Armínio Fraga chegou ao comando do Banco Central e decidiu, em meio à crise que resultou na forte desvalorização do real, implantar no país o regime de metas para inflação e o sistema de câmbio flutuante. Como recorda o jornalista Cristiano Romero, “os novos instrumentos representavam uma guinada na forma como a estabilização da economia passaria a ser conduzida dali em diante”.

O deputado Carlos Brandão (MA) também criticou a dificuldade do governo em conter a desvalorização do dólar diante da supervalorização do real. Segundo ele, a atual situação “gera um imenso prejuízo para os exportadores e causa muita preocupação a todo o país”. O tucano afirmou que se preocupa, pois esse quadro parece esconder uma verdadeira bomba-relógio.

O tucano Domingos Sávio (MG) cobrou seriedade do governo, especialmente no que diz respeito ao preço dos combustíveis. Conforme lembrou, a gestão do PT alardeou uma autossuficiência de petróleo que não existe, além de dizer à população que os combustíveis não terão alta de preço num momento em que todos veem essa elevação. E acrescenta: “É preciso enfrentar o problema do gasto público e do déficit fiscal”, defendeu, ao lembrar que o Executivo tem editado diversas medidas provisórias que elevam os gastos federais.

→ A audiência pública com Alexandre Tombini foi promovida pela Comissão Mista de Orçamento do Congresso, em conjunto com três comissões da Câmara (Finanças e Tributação; Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; Fiscalização Financeira e Controle) e com duas comissões do Senado (Assuntos Econômicos; e Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle).

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(Reportagem: Djan Moreno / Foto: Eduardo Lacerda/Áudio: Elyvio Blower)

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5 maio, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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