Vale-tudo irresponsável
Demora do BC para admitir esforço insuficiente no combate à inflação pode custar caro ao país
Em sua Carta de Formulação e Mobilização Política desta sexta-feira (29), o Instituto Teotônio Vilela volta a abordar um tema que tem atormentado os brasileiros: a volta da inflação. Como destaca o ITV, o Banco Central deixou claro ontem que a estratégia que vinha adotando até agora para debelar a alta de preços é insuficiente: não há mais dúvidas que a inflação claramente escapou da trajetória desejada pela autoridade. “O que os brasileiros estão pagando a mais hoje nos supermercados, farmácias, escolas e barbearias da vida é o preço pela eleição de Dilma. As torneiras do gasto público jorraram demais e por muito tempo. Era o vale-tudo do PT em ano eleitoral”, avalia o instituto. Leia abaixo a íntegra do documento:
Erros ‘suficientemente prolongados’
O Banco Central deixou claro ontem que a estratégia que vinha adotando até agora para debelar a inflação é insuficiente. Depois de muito tempo sendo criticada, a autoridade monetária parece, pela primeira vez, reconhecer que precisa dedicar esforço maior para segurar a escalada de preços. Demorou e pode sair caríssimo ao país.
A ata divulgada ontem, relativa à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada na semana passada, prenuncia um período “suficientemente prolongado” de elevação dos juros, com base na constatação de que “o cenário prospectivo para a inflação não evoluiu favoravelmente” desde o início de março. O BC admite agora que apostou suas fichas no cavalo errado.
Antes consideradas “instrumento rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda”, as medidas de contenção de crédito (“macroprudenciais”) perderam o brilho como alternativa para atacar o dragão da inflação. O que era regra de ouro um mês e meio atrás agora sumiu do radar, em favor da prevalência da bazuca dos juros.
O consenso dos analistas é que virão pela frente taxas mais altas para conter os preços. O processo de alta dos juros deve prolongar-se por um período maior, ao contrário do que se previa até poucas semanas atrás. Isso é o que se depreende da leitura do papel divulgado ontem. Se as ações corresponderão às expectativas são outros quinhentos, já que o BC tem sido reincidente em indicar caminhos dúbios nos últimos meses.
Um exemplo de ambiguidade: Se o BC admite que a situação da inflação piorou desde a reunião anterior do Copom, ocorrida no mês passado, por que a Selic subiu menos (apenas 0,25 ponto porcentual) agora do que em janeiro e março? Mais: por que, em termos reais, os juros ficaram até menores no período, enquanto a inflação escalava?
A despeito disso, os aumentos dos juros deverão continuar a vir a conta-gotas. É o que se chama “estratégia gradualista”, numa linha parecida com a que, do outro lado da Esplanada, o Ministério da Fazenda gosta de adotar em suas políticas. Para um país onde a indexação ainda é regra, pode ser arriscado demais como arma antiinflacionária.
“O Copom sabe que um tratamento gradual, que permite uma sintonia mais fina na dosagem do remédio, tem o preço de prolongar o tempo de correção de rota. O tratamento prolongado da inflação em uma economia com o histórico da brasileira tem o risco de abrir espaço para recidiva da reindexação de preços”, alerta o Valor Econômico em editorial.
O que parece fora de dúvida é que a inflação claramente escapou da trajetória desejada. O IPCA acumula alta de 6,30% nos 12 meses até março, em rota ascendente depois dos 6,01% de fevereiro e dos 5,99% de janeiro. As projeções de analistas de mercado compiladas no Boletim Focus sobem há sete semanas e já anteveem a inflação próxima do teto da meta (6,5%). Para piorar, há o forte impacto da elevação dos serviços: nos 12 meses terminados em março, a alta é de 8,53%, maior variação desde agosto de 1997, ou seja, em quase 14 anos.
Resta evidente a desproporção entre a força da inflação e a debilidade da estratégia de contra-ataque adotada pelo Banco Central sob as bênçãos de Dilma Rousseff, que compactou com o diagnóstico equivocado que vigorou até agora nos meios oficiais. Foram meses a fio persistindo no erro, vendo a inflação brasileira como mero espelho da escalada global. A que custo?
“O Banco Central poderia reconhecer também – mas isso talvez fosse exigir demais – que os tais impulsos fiscais excessivos foram a base da forte expansão de renda, de demanda e de preços. E poderia reconhecer, ainda, que, nos quatro primeiros meses deste ano, o revide foi frouxo demais em relação ao tamanho do estrago sobre o salário do trabalhador”, provoca Celso Ming, na mais acurada análise disponível nos jornais sobre a ata do Copom.
O que a ata do Copom também não explicita é a responsabilidade da política petista em incentivar a inflação. Falta dar nome aos bois. Aqui vai: o que os brasileiros estão pagando a mais hoje nos supermercados, farmácias, escolas e barbearias da vida é o preço pela eleição de Dilma. As torneiras do gasto público jorraram demais e por muito tempo. Para PT, em ano eleitoral valia tudo. O pato ficou para o assalariado pagar.
(Fonte: ITV)
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