Energia nuclear: cara e insegura, por Ricardo Tripoli


Em 26 de abril, o acidente nuclear de Chernobyl completa 25 anos. O desastre provocou a morte imediata de trabalhadores da usina e de outras 28 pessoas em poucos dias, além de prejudicar, posteriormente, a saúde de milhares, obrigar mais de 350 mil a deixarem suas casas e de transformar a cidade de Pripyat, hoje na Ucrânia, em um local fantasma. Tudo isso deve servir de referência para o Brasil refletir melhor sobre o andamento de seu programa nuclear.

Diante do potencial energético de matrizes limpas, é descabido cogitarmos a implantação de novas usinas nucleares no País. Temos 12% da água doce de todo o planeta, com um imenso potencial de geração de energia ainda a ser explorado. E antes de cogitarmos a construção de novas usinas hidrelétricas, com obras atualmente envoltas em polêmicas trabalhistas, fruto da pressa do famigerado PAC, há a possibilidade de repotenciação das unidades geradoras já instaladas, o que pode trazer, segundo estimativas apontadas pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), uma produção de mais de 8.000 MW. São 800 MW a mais do que o Governo Federal quer produzir por meio de geração nuclear até 2030, instalando entre oito e 12 usinas.

Do ponto de vista ambiental, os ganhos da repotenciação hidrelétrica são expressivos, pois o impacto é menor e o licenciamento mais ágil, além de livrar o país de uma ameaça constante, as usinas nucleares. Não custa lembrar que a EPE é subordinada ao Ministério de Minas e Energia, o mesmo que retoma um programa nuclear criado pela ditadura militar nos anos 70, resgatando contratos antigos, além de utilizar equipamentos comprados àquela época e com uma implantação também polêmica, cercada de licenciamentos nebulosos.

O Governo se recusa a prestar esclarecimentos corretos ao Congresso sobre o programa. Em 2007, após do vazamento em Angra 2, requerimos informações do Governo Federal sobre o incidente, noticiado onze dias após o ocorrido. Até hoje nada foi enviado ao Congresso. Além disso, o Governo opera seu rolo-compressor para esvaziar as audiências públicas solicitadas por parlamentares.

Com este panorama, é uma temeridade que o Brasil siga com seu programa nuclear. Os resíduos nucleares, sobras do processo de geração de energia e altamente prejudiciais à saúde das pessoas e ao meio ambiente, não são guardados em locais temporários. Depois de mais de 30 anos da criação do programa nuclear brasileiro, o local para o depósito definitivo ainda não foi instalado.

Do ponto de vista econômico, a energia nuclear também não apresenta benefícios. Com a necessidade de se aumentar a segurança das usinas, os custos de geração dobraram após acidentes como o de Chernobyl. Cada quilowatt instalado em uma usina nuclear custa em média US$ 5.000, ante US$ 1200 médios do quilowatt hidrelétrico. Mesmo com padrões de segurança maiores, o incidente na usina de Fukushima mostra que os sistemas atuais são vulneráveis e potencialmente perigosos, podendo afetar milhões de pessoas por diversos tipos de contaminação.

As alternativas às usinas nucleares vão além da repotenciação. Outra ferramenta importante para o aumento da oferta de energia é o combate às perdas técnicas, atualmente na ordem de 15%. Se o Brasil entrasse na média de 6%, considerado o padrão internacional, o sistema elétrico teria um acréscimo de cerca de 6.500 MW o equivalente à produção de mais de meia Itaipu.

Com um extenso território, o Brasil também tem como opção a geração de energia eólica. Com apenas 1.000 MW instalados, o país ainda engatinha neste tipo de matriz energética, mas o potencial de geração estimado pelo setor chega a 300 mil MW. O custo, antes um impedimento para a energia eólica, tem caído, e sua energia já é mais barata do que as poluentes termelétricas, outra aposta errada do ministro Lobão.

Os exemplos citados mostram que em um país como o Brasil, visto pelo mundo como uma potência energética, não faz o menor sentido investimento em usina nuclear.

É clara a necessidade de se direcionar as políticas públicas na área de energia para matrizes energéticas limpas. Resta saber a quem interessa este investimento em energia nuclear, pois ele está longe de trazer real benefício ao povo brasileiro.

(*) Ricardo Tripoli, advogado e ambientalista, é deputado federal (PSDB-SP) e integrante da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara. Artigo publicado no jornal digital “Brasil 247”.

Compartilhe:
29 abril, 2011 Artigosblog Sem commentários »

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *