Violência nas escolas, por Marisa Serrano
Desde 2009 estamos batendo na tecla dos perigos que representam a crescente violência nas escolas brasileiras. Inúmeras vezes, na Comissão de Educação do Senado , denunciei a grave deterioração das relações sociais dentro das escolas de nosso País.
O fenômeno do bulling, a agressão de alunos a professores, a formação de gangues nos ambientes escolares, o tráfico de drogas, enfim, há muito tempo estamos insistindo que a escola, aos poucos, começou a se transformar no centro onde se concentra as mazelas sócio-culturais de nosso País.
Pela lógica, diante da intensificação das chamadas doenças urbanas, sempre haverá o momento em que essas pequenas tragédias do dia a dia terminam culminando num fato surpreendente, deixando os brasileiros consternados diante da selvageria e da loucura acumuladas e reprimidas.
Vivemos tempos estranhos e, por isso, sentimo-nos impotentes à procura de respostas e soluções, quando, na verdade, elas são complexas demais para se encerrar numa fórmula mágica e instantânea. Mas não podemos perder as esperanças. Temos que continuar lutando para compreender e prevenir, alertar, controlar e, se necessário, punir.
Os acontecimentos da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, no qual 12 crianças foram brutalmente assassinadas por Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, nos surpreenderam porque ultrapassaram os limites da razão e da imaginação.
Como alguém foi capaz de cometer tal ato? O que levou uma pessoa a retornar ao estágio primitivo e cometer tamanha barbaridade contra pessoas inocentes? Não há explicações relativas, não há possibilidade de compreensão nem de aceitação. Por mais que se argumente e se justifique, ficamos sem explicação convincente, mesmo porque nossos sentimentos não permitem racionalizar atos de extrema maldade como esses.
Diante disso, surgem múltiplas propostas na direção de adoção de medidas que possam endurecer o sistema de proteção e segurança da população, como se isso pudesse atenuar nossa dor e evitar, no futuro, que tais tragédias aconteçam.
Temos de ser realistas: criar leis midiáticas, endurecer normas, aumentar os esquemas repressivos, propor novamente a lei de desarmamento, tudo isso, no calor da hora, pode até ajudar a debater saídas, mas não apresentam soluções efetivas porque o tempo acaba afrouxando o próprio sistema.
Sabemos, por experiências passadas, que depois que passa a onda de indignação e comoção públicas, tudo volta ao normal, até que a próxima tragédia aconteça e o clamor da opinião pública volte a se manifestar exigindo medidas cada vez mais duras e de efeito duvidoso.
O grande problema é que vivemos uma cultura da violência, que está na base social, e que termina atingindo a situação limite em acontecimentos como o da escola de Realengo. O contexto de violência cotidiana (subproduto da globalização) leva aos extremismos e estimula atos tresloucados. Tudo se conecta. Não podemos imaginar que essa tragédia seja um episódio isolado. Ele é desdobramento de algo muito mais extenso e complicado que possamos imaginar.
Por isso, temos que reforçar a idéia de que a escola é o espaço por excelência da construção da democracia. Mais que a cultura, o conhecimento, os ensinamentos técnicos, o ambiente escolar é o lugar de interação e convívio humano, integração social, respeito ao próximo. Enfim: a escola é onde se aprende a praticar a tolerância e também onde se constrói a base da compreensão do outro.
Na outra ponta, é no ambiente familiar que esse processo se integra de maneira harmônica e interativa para que se construa uma sociedade mais justa e, com isso, se consolide o avanço do processo civilizatório. Havendo uma justaposição de conceitos, de ensinamentos, de discussão e de harmonia, entre família e escola, estaremos cada vez ampliando o processo democrático e combatendo a violência sorrateira que germina no dia a dia.
Não vejo outra maneira de construir uma sociedade de paz sem ser dessa maneira. A escola deve ser o espaço de ressonância amorosa para aprofundarmos a criação de uma sociedade não-violenta, mais criativa, menos hedonista e consumista e, por fim, mais cidadã.
Senadora Marisa Serrano, vice-presidente nacional do PSDB
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