Rolo compressor
Para tucanos, Planalto confunde interesses públicos com partidários
O governo de Dilma Rousseff adotou a estratégia de mobilizar a base aliada para aprovar projetos de interesse no Congresso Nacional. Para garantir o apoio dos parlamentares, o Executivo repartiu cargos. A presidente repete uma prática típica de Lula: colocar políticos em áreas técnicas para garantir resultados favoráveis em votações. Essa é a avaliação feita pelos deputados Reinaldo Azambuja (MS) e Márcio Bittar (AC).
Eles se referem às manobras para aprovar propostas que vão contra os interesses da população. É o caso do salário mínimo de R$ 545, a criação de uma estatal para gerenciar o trem-bala e o projeto que triplica os repasses ao Paraguai pela energia elétrica produzida pela Usina de Itaipu.
Para Azambuja, a prática é um retrocesso, provoca prejuízos para o Brasil e desrespeita a sociedade. Segundo o tucano, a presidente Dilma está na contramão daquilo que a população deseja. “O governo joga por meio da barganha. Ao invés de melhorar o desempenho do setor público, isso piora os serviços prestados à sociedade. Eles colocam no poder políticos e pessoas que não têm qualificação nem competência para gerir coisas públicas. E quem paga essa conta é o povo brasileiro”, argumentou.
O deputado lembra o episódio do salário mínimo. A oposição queria R$ 600, mas o governo dizia que não havia dinheiro para a mudança. Em seguida, foi aprovado o projeto de repasse para os cofres do Paraguai pela produção de Itaipu. “Nós estávamos pedindo R$ 15 a mais para o trabalhador brasileiro, o que iria gerar renda aqui dentro. Mas tem mais de R$ 250 milhões por ano para o povo paraguaio, para fazer um capricho de um acordo do presidente Lula ”, afirmou. Sobre o trem-bala, Azambuja ressalta que com os mais de R$ 30 bilhões previstos para a obra, seria possível reformar a malha ferroviária para escoar a produção agrícola.
Márcio Bittar ressaltou que essa prática de governo em que o Estado se serve de um partido e de uma ideologia política é perigosa. “O PT confunde o público e o privado, o que é o interesse do partido com o que é o interesse do Estado. O Brasil precisa se profissionalizar urgentemente”, apontou. O tucano destacou que o governo precisa defender os interesses da nação, não de aliados políticos. “O mérito precisa reinar de forma absoluta. Não pode a máquina pública ter quase 30 mil cargos de confiança. O PT faz um governo paralelo em todas as secretarias e em todos os ministérios. É óbvio que esse governo paralelo atende numa reunião partidária muito mais os correligionários do que o interesse do Estado”, frisou.
Contradições nas despesas
Itaipu
Com a mudança, o Brasil pagará três vezes mais ao Paraguai pelo consumo do excedente de energia produzida pela usina hidrelétrica de Itaipu. A dívida de Itaipu será zerada e os recursos gerados pela usina poderão ser repassados ao Brasil e Paraguai. O país vizinho poderá receber ao redor de US$ 1,5 bilhão ao ano de Itaipu. Para a oposição, a mudança gerará um impacto R$ 6 bilhões até 2013 nos cofres brasileiros.
Trem-bala
De acordo com o Instituto Teotônio Vilela, desde que a proposta do Trem de Alta Velocidade foi apresentada, a estimativa de investimentos aumentou 70%, mas deve subir mais. Com os R$ 33 bilhões destinados à obra, seria possível construir 300 km de metrô e mais de 10 mil km de ferrovias. Os R$ 33 bilhões são para construir 511 km de trilhos entre Campinas e o Rio de Janeiro, incluindo 91 km de túneis e 108 km de pontes e viadutos. Mas as apostas são de que o empreendimento pode chegar a R$ 50 bilhões, sendo R$ 20 bilhões vindos dos cofres públicos.
Salário Mínimo
O salário de R$ 545 foi insuficiente para repor a inflação acumulada em 2010, que chegou a 5,9%. A projeção do INPC é de que o trabalhador que recebe o mínimo, teria perdido 1,3% do poder de compra em março, se comparado com o mesmo período do ano passado. Hoje, 47 milhões de trabalhadores brasileiros ganham um salário mínimo.
(Reportagem: Artur Filho/ Fotos: Saulo Cruz e Diógenis Santos/Ag. Câmara/Áudio: Elyvio Blower)
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