Cautela bem vinda


Domingos Sávio defende revisão do programa nuclear brasileiro para evitar riscos à população

O deputado Domingos Sávio (MG) considerou contraditórias as afirmações de autoridades do setor eletronuclear ao defenderem a revisão de toda a segurança do setor e, ao mesmo tempo, resguardarem o sistema como se não houvesse risco nenhum para o Brasil. Na opinião do tucano, os esclarecimentos sobre a segurança das usinas brasileiras não foram convincentes. “Eles não conseguiram diminuir as nossas preocupações”, lamentou.

O parlamentar participou de audiência pública nesta quarta-feira (23) na Comissão de Minas e Energia para discutir os projetos de construção de usinas nucleares no Brasil e a situação daquelas já em funcionamento. Os presidentes da Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), Alfredo Tranjan; da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Odair Dias; e da Eletrobras Termonuclear S/A (Eletronuclear), Othon Luiz Pinheiro; também estiveram presentes na reunião, pedida pelo tucano e por outros parlamentares.

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Após o terremoto ocorrido no Japão, alguns países da Europa – como Alemanha, Inglaterra e Itália – diminuirão o uso da energia nuclear. A Alemanha, por exemplo, decidiu suspender por três meses o funcionamento dos seus reatores para fazer uma revisão de segurança. Já no Brasil, por outro lado, o discurso do governo é de construção de mais usinas. Segundo o deputado, é necessário ter prudência e fazer uma revisão profunda de todos os mecanismos de segurança.

“Diante da tragédia ocorrida no Japão, ficamos preocupados em relação ao perigo trazido por essa energia. Devemos ter todo o cuidado e fazer uma revisão completa, além de rever a construção de novas usinas por uma razão que não se limita ao risco”, alertou. De acordo com Domingos Sávio, a energia nuclear apresenta perigos que fogem ao controle e podem provocar  sérios problemas.

O deputado acredita que falta uma política adequada para incentivar o uso das fontes eólica e solar. “Precisamos de uma política que reduza o custo para produção de energia limpa e depois fazermos uma análise comparativa. Caso contrário, vamos jogar dinheiro público em uma usina nuclear que pode se transformar numa bomba-relógio contra a população”, alertou.

Cautela fundamental
“Se um país como Japão com toda a tecnologia está vivendo esse pesadelo não venham me dizer que no Brasil não há possibilidade de terremotos. Não é possível provar isso com 100% de segurança, porque já tem alguns abalos sísmicos que repercutem no Brasil, além do risco proveniente da ação humana. Precisamos estar preparados para situações desta natureza, rever o programa nuclear e analisar alternativas.”
Dep. Domingos Sávio (MG)

Raio-x do setor

No Brasil, a energia nuclear é desenvolvida nas usinas Angra I e Angra II, no município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Além disso, há ainda o projeto de construção de uma terceira usina: a Angra III. O Brasil já detém a tecnologia de enriquecimento do urânio.

 Segundo dados da Associação Mundial Nuclear de março de 2011, o mundo possui 443 reatores em operação e um total de quase 70 mil toneladas de urânio. Entre os principais países que utilizam a energia nuclear estão os EUA (104 reatores ativos), França (58 reatores ativos), Japão (54 reatores ativos) e Rússia (32 reatores ativos).

De acordo com números do Instituto de Energia Nuclear, em 2009 as usinas nucleares foram responsáveis por 14% da produção de energia elétrica mundial. Os países que mais utilizam este tipo de energia foram a Lituânia (76,2%) e França (75,2%), seguidos por Eslováquia (53,5%), Bélgica (51,7%) e Ucrânia (48,6%). No Brasil, a energia elétrica produzida pelas usinas Angra I e Angra II representou 3% do total nacional.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Foto: Ag. Câmara/ Áudio: Elyvio Blower)

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23 março, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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