“Brasil, governança e inflação de alimentos”, por Marconi Perillo
Está na hora de promover avanços sociais a partir de cenário mundial que esconde oportunidades para um celeiro agrícola como o Brasil
A escalada no preço dos alimentos tem dominado o noticiário econômico internacional. Não é para menos. No ano passado, o valor das commodities agrícolas registrou alta média de 23,9%, atingindo o seu nível mais elevado desde 1990. Os dados são da FAO, agência da ONU para agricultura e alimentação.
Agora, em 2011, tudo leva a crer que os alimentos continuarão sendo uma das principais fontes de pressão inflacionária. O debate acalorado sobre o tema tem mobilizado atores da arena política mundial, como o presidente da França, Nicolas Sarkozy, atualmente na presidência rotativa do G20.
Para Sarkozy, o principal elemento por trás da elevação do preço dos alimentos é a ação de especuladores que apostam na alta das commodities. Em parte, tem razão.
Afinal, para debelar os efeitos da crise financeira internacional, bancos centrais de países desenvolvidos injetaram bilhões de dólares em suas economias.
No entanto, como todas as questões macroeconômicas de nossa era, a inflação de alimentos tem relação com múltiplos eventos, que vão além dos movimentos especulativos na Bolsa de Chicago.
Há, por exemplo, fatores ambientais relevantes. Extremos climáticos têm afetado importantes produtores. Neste início de 2011, o mundo acompanhou on-line a tragédia da região serrana do Rio de Janeiro, as inundações na Austrália e a seca na China e na Argentina.
Outro elemento a ser levado em conta é o crescimento de países emergentes, em especial na Ásia.
Todos os anos, milhões de pessoas ascendem à classe média em países como China, Índia, Indonésia e Vietnã, entre outros.
Com mais dinheiro no bolso, essas pessoas -em fenômeno semelhante ao observado em relação à classe C brasileira- alimentam-se melhor e, consequentemente, demandam mais produtos agrícolas.
O fenômeno se revela complexo e explicações fáceis parecem apenas endossar teses obscurantistas.
À frente do governo de Goiás, quarto maior produtor de grãos do país (em 2010, produziu 13,53 milhões de toneladas), trabalhamos para não ficar paralisados.
Nossos esforços visam abrir no contexto econômico atual uma janela de oportunidades para o Brasil. No livre mercado, perdas e ganhos caminham juntos.
A posição brasileira no comércio mundial justifica, racionalmente, nossas pretensões. Dados do Ministério da Agricultura informam que, de novembro de 2009 a novembro de 2010, as exportações brasileiras ligadas ao agronegócio somaram US$ 75,3 bilhões- cerca de 40% de tudo o que o país vendeu para o exterior nesse período.
O Brasil é considerado o produtor com maior capacidade de suprir a demanda mundial por alimentos nas próximas décadas. Para isso, não existe mágica.
A boa governança indica um longo e ambicioso dever de casa a ser feito pela União, pelos Estados e pelos municípios. Além dos gargalos tributários e cambiais, as deficiências de nossa infraestrutura neutralizam nossas vantagens.
Por isso, em Goiás, mesmo herdando do governo passado um buraco orçamentário que ultrapassa R$ 1,5 bilhão, assumimos o compromisso de recuperar e asfaltar, em 2011, pelo menos 500 quilômetros de rodovias.
Mais: embora comprometido com rigoroso ajuste fiscal, o governo de Goiás projeta investimentos de R$ 11,5 bilhões em 2011.
A inflação que acossa o preço dos alimentos desafia os gestores públicos no Brasil. É hora de buscar formas de atenuar o contágio dessa conjuntura mundial no campo doméstico. Mas também de promover avanços sociais a partir do cenário que esconde oportunidades para um celeiro agrícola como o Brasil.
Mãos à obra!
Marconi Perillo é governador do Estado de Goiás pelo PSDB. Artigo publicado na Folha de S. Paulo em 02/03/11
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