Festival de gastança


Gastos do governo mostram que discurso de austeridade está longe da prática, avaliam tucanos

Os deputados Alberto Mourão (SP) e Marcus Pestana (MG) criticaram nesta segunda-feira (21) o abismo entre o discurso e a prática do governo federal. O Planalto determinou aos ministérios uma redução de 50% nos gastos com deslocamentos e diárias para enxugar as contas públicas. No entanto, apesar do corte de R$ 50 bilhões anunciado pelo governo, essas despesas aumentaram em relação a 2010. De acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), em menos de 45 dias da gestão Dilma Rousseff, os gastos com diárias no país subiram em janeiro em relação ao mesmo período do ano passado de R$ 20,6 milhões para R$ 22,6 milhões.

Segundo reportagem do jornal “Correio Braziliense”, se já estivesse em vigor desde o início do ano o corte determinado pelo governo, a despesa em janeiro não poderia ultrapassar R$ 13,5 milhões. Os deputados do PSDB ressaltaram que a economia neste tipo de gasto seria uma das fontes para pagar um salário mínimo de R$ 600. “É uma péssima sinalização. O discurso vai em uma direção, mas a ação concreta vai no rumo oposto, no rumo da gastança”, avaliou Marcus Pestana.

O tucano considerou preocupante o descontrole nos gastos no início do governo Dilma. “É preciso analisar o conteúdo e a extensão desse corte, pois ele serviu para criar um ambiente para a votação do mínimo. O governo quis sinalizar que não poderia incorporar a proposta do PSDB de um salário maior para o trabalhador e agora ao analisar os números dos gastos de custeio vemos que estão descontrolados”, destacou o parlamentar ao lembrar que a gastança pode resultar na volta da inflação.

Alberto Mourão disse que o governo anunciou o corte bilionário sem critérios e não dá o exemplo. “É um discurso para justificar que, apesar de fazer cortes dentro do orçamento, eles não conseguiriam atender a demanda da sociedade de aumentar o salário mínimo. Eles anunciaram o corte para dizer que estavam fazendo a lição, mas não estão fazendo. É necessário um ajuste no orçamento público sem comprometer os investimentos. Há gordura em todos os gastos de custeios e não só na questão das diárias”, ressaltou o deputado.

O relatório de viagens da Esplanada mostra que o Ministério da Justiça é responsável pela maior parte das despesas até o momento: R$ 10,5 milhões. Na Ciência e Tecnologia, os gastos saltaram de R$ 522 mil, em janeiro de 2010, para R$ 970 mil no mesmo mês deste ano. A Educação gastou R$ 7 milhões nos primeiros dias de 2011. “É possível cortar gastos em todos os ministérios. O que falta é vontade e determinação”, disse Alberto Mourão.

Uso sem critério do dinheiro público

→ Em entrevista ao Correio, o professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, Roberto Piscitelli, declarou: “Quando o governo anuncia que vai reduzir pela metade esses gastos, a impressão é que hoje não há critério para liberar viagens, que as pessoas estão viajando sem precisar, ou estão permanecendo no local por mais tempo do que o necessário.”

Finalidade 2010 2011
Passagens internas R$ 2,4 milhões R$ 2,6 milhões
Passagens para o exterior R$ 803 mil R$ 1,6 milhão
Diárias no país R$ 20,6 milhões R$ 22,6 milhões
Diárias no exterior R$ 2,3 milhões R$ 2,1 milhões

Fonte: Siafi. *Alguns ministérios informaram que os números podem ser maiores, porque algumas despesas ainda não foram lançadas.

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(Reportagem: Alessandra Galvão/Foto: Paula Sholl/Áudio: Elyvio Blower)

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21 fevereiro, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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