Peso no bolso do trabalhador


Inflação está voltando a ser um problema cotidiano no país, alerta ITV

A primeira inflação da gestão Dilma é a maior em seis anos. Os aumentos de preços não se restringem a alimentos, são intensos na prestação de serviços e corroem renda do brasileiro. Esses são os principais alertas da análise de conjuntura desta quarta-feira (9) do Instituto Teotônio Vilela (ITV). Segundo o texto, a situação tende a piorar com repasses das altas no atacado, hoje represadas pelas indústrias. “Mas a equipe econômica insiste em negar o óbvio e demora a agir. Enquanto isso, a presidente diz agora que é preciso fazer o que negou em campanha: um forte ajuste nas contas públicas”, critica a carta de formulação do ITV. Leia abaixo a íntegra do documento:

Lá vem a inflação subindo a ladeira

Começou bem o governo da presidente Dilma Rousseff: a inflação voltou a subir forte no primeiro mês da nova gestão. O IPCA (que serve de referência para o regime de metas) atingiu 0,83% em janeiro. Foi a maior alta desde abril de 2005, igualando a marca de novembro passado.

O que está ruim deve piorar e a inflação mensal pode superar 1% neste mês de fevereiro. Atingir a meta prevista para este ano já é dado como missão impossível – o IPCA acumulado em 12 meses já está em 5,99% e deve furar o teto da margem de tolerância do sistema em meados deste ano. O fogo do dragão está incinerando a renda do brasileiro.

Para quem quer que tenha que fazer uma compra de supermercado ou pagar o serviço de uma manicure, está mais que evidente que a inflação está voltando a ser um problema cotidiano no país. Não para Guido Mantega e a equipe econômica petista.

O ministro da Fazenda continua na sua ladainha de que o que o Brasil experimenta é o mesmíssimo processo que se espraia pelo mundo todo, valoriza o preço dos alimentos e puxa os índices de preços para cima. Seria tudo, portanto, um fenômeno global e uma onda passageira (sazonal). Entoando este loa, Mantega vai vendo a caravana passar. A chefe dele também assiste.

O triste é que os dados – estes estraga-prazeres – contradizem Mantega. A inflação de janeiro foi a maior para este mês do ano desde 2003, ou seja, não há sazonalidade. Os aumentos dos alimentos, também ao contrário do argumento oficial, foram bem menores agora do que haviam sido em novembro passado – outro mês de inflação igualmente nas alturas.

Em novembro, os alimentos subiram 2,22% e agora quase metade disso: 1,16%. Não é, portanto, o chuchu o vilão da inflação corrente, como sonha Mantega, talvez saudoso dos anos de chumbo quando desculpas como esta colavam.

Dos subíndices que compõem o IPCA, 70% aumentaram em janeiro – isto é, o movimento de alta é generalizado. Se no comércio a remarcação de preços corre solta, na prestação de serviços já virou epidemia: a inflação acumulada em 12 meses bateu em 7,88%, nível que não se observava no país desde 1997.

Para o ministro da Fazenda, segundo O Estado de S.Paulo, o importante é “evitar que se instale na economia um ‘pessimismo’ generalizado em torno da alta de inflação”. Assim, o sábio Mantega prefere investir na “comunicação” da posição do governo. Melhor faria se agisse, definisse logo como o governo vai reduzir gastos e administrar melhor o dinheiro do contribuinte.

O tempo urge, porque vem mais inflação por aí. O IGP-DI, que mede a inflação no atacado, mais do que dobrou: passou de 0,38% em dezembro para 0,98% em janeiro. Logo, logo esta onda também baterá no varejo e inchará ainda mais os índices ao consumidor.

Assustadas, as indústrias estão apertando a margem de lucros para não perder vendas, como mostra O Globo. Não demora, também terão de repassar os custos represados para os preços. Enquanto mantêm os ganhos menores, tendem a cortar investimentos. Neste ciclo, perde o trabalhador em renda e em emprego.

Segundo a Folha de S.Paulo, Dilma Rousseff avaliou como “ruim” o resultado da inflação de janeiro e considera que “o número reforça sua decisão de fazer um ‘forte’ ajuste fiscal neste início de governo”. A presidente pode alegar tudo, menos surpresa.

A escalada inflacionária foi denunciada pela oposição na campanha eleitoral do ano passado. Dilma negou-a. A necessidade de impor controle mais robusto sobre os gastos públicos foi defendida pela oposição no ano passado. Dilma negou-a.

Não pode agora é negar-se a fazer o que é preciso para preservar a maior conquista da sociedade brasileira na história contemporânea: a estabilidade da moeda, conquista esta que seu partido sempre se negou a apoiar.

(Fonte: ITV)

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9 fevereiro, 2011 Últimas notícias Sem commentários »

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