Economia desconjuntada
Números do IBGE sobre o PIB revelam sérios desequilíbrios, alerta ITV
Em sua mais recente análise de conjuntura, o Instituto Teotonio Vilela (ITV) chama a atenção para as conclusões que podem ser tiradas a partir dos números do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB): os dados relativos ao terceiro trimestre, com expansão de 0,5% ante os três meses anteriores, mostram uma economia ainda vigorosa, mas desconjuntada. De acordo com o ITV, a evidência mais forte de desequilíbrio é que os brasileiros consomem acima do que as empresas do país têm capacidade de fabricar. Além da análise do momento, instituto faz um balanço dos números ao longo de todo o governo petista. “É correto concluir que o resultado alcançado por Lula é pouco mais que decepcionante para quem teve tantas e tão favoráveis condições de fazer o país alçar voos mais ambiciosos”, diz trecho do documento, cuja íntegra está disponível abaixo:
Crescimentos de má qualidade
A divulgação periódica dos resultados do PIB é sempre um bom momento para aferir a quantas anda a produção de bens e riqueza do país. Os números relativos ao terceiro trimestre, com expansão de 0,5% ante os três meses anteriores, mostram uma economia ainda vigorosa, mas desconjuntada. A qualidade do nosso PIB tem piorado: somos hoje um país glutão que consome muito mais do que consegue produzir.
Os números divulgados pelo IBGE revelam, mais do que escondem, sérios desequilíbrios. O mais evidente deles é que os brasileiros consumimos acima do que as empresas do país têm capacidade de fabricar. Resultado disso é que a demanda interna tem sido coberta cada vez mais por bens vindos do exterior: as importações subiram assustadores 40,9% em relação ao terceiro trimestre de 2009. É a maior alta desde meados de 1995.
Importar mais tem alguns aspectos positivos, como forçar os preços internos para baixo e segurar a inflação. Se não fossem as importações, provavelmente estaríamos pagando caríssimo por uma lista de produtos e serviços ou estaríamos sujeitos a uma taxa de juros reais ainda maior do que a atual – que, mesmo assim, se mantém como a mais alta do mundo.
Se importar ajuda em alguns aspectos, ao mesmo tempo impõe um custo ao país. Nossas firmas produzem menos, geram menos receita e menos empregos. Tudo isso pode ser expresso de várias maneiras, mas uma das mais eloquentes é quanto do PIB se perde quando se deixa de produzir internamente em favor de comprar no exterior.
Sem as importações, o crescimento do PIB no terceiro trimestre em relação a igual período de 2009 teria sido de 10,3% e não de 6,7% como foi, conforme mostrou o Valor Econômico. Em moeda sonante, estes 3,6 pontos percentuais significam R$ 114 bilhões a menos de riqueza produzida no país.
É fácil ver esta perda em exemplos cotidianos. Desde 2004, a fatia do consumo doméstico atendida por importados passou de 8% para 28%. Em setores como máquinas e equipamentos, o percentual já beira 50%, segundo a Abimaq. As compras de aço, setor no qual as siderúrgicas do país são vanguarda, cresceram 154% ao longo deste ano. Hoje, de cada empresa que exporta no Brasil, há duas que importam. O câmbio valorizado explica boa parte destes resultados.
Na outra ponta, o consumo das famílias cresce em parar há 28 trimestres, ou há exatos sete anos. A maior parte dos economistas entende que continuará assim no próximo ano. A consequência é que o Brasil continuará dependente da produção que vem de fora para atender seus ávidos consumidores. Com isso, suas contas com o exterior vão ficar ainda mais deficitárias e a inflação em alta permanecerá à espreita. Risco que nenhum país gosta de correr.
Não são apenas as famílias as responsáveis pela demanda aquecida. Investimentos também crescem bem, mas explosivos mesmo são os gastos do governo. Nos oito anos da gestão Lula, a média anual de aumento das despesas públicas foi de 7% em termos reais, ou seja, acima da inflação, de acordo com O Estado de S.Paulo. Haja pressão sobre o consumo. Num quadro assim, não surpreende que a oferta nacional esteja longe de dar conta da demanda.
Na semana passada, o IBGE também divulgou os números revisados do PIB de 2009. A retração foi ainda maior do que já se sabia: passou de 0,2% para 0,6%. A “marolinha”, como Lula se referiu à recessão do ano passado, é o pior resultado desde 1990, ou seja, desde o governo Fernando Collor. Como a previsão para este ano é de um crescimento em torno de 7,4%, o governo do petista deverá terminar com o melhor e o pior resultado da série desde 1985.
Mais do que observar o retrato do momento, a divulgação do último PIB de Lula é propícia para avaliar os resultados do mandato do atual presidente numa perspectiva mais ampla. A média anual de crescimento econômico nestes oito anos ficará em 4%. É muito? É pouco? Para responder isso, deve-se relevar as circunstâncias mundiais – e, exceto o ponto fora da curva da crise de 2008/2009, elas foram exuberantes neste período.
Pois mesmo com todo este céu de brigadeiro Lula termina seu governo com o país tendo crescido menos que sua média histórica, de 4,5%. Entre os 29 presidentes desde o início da República, 18 saíram-se melhor do que o petista, conforme mostrou O Globo em sua edição de sexta-feira.
Quando olhamos para o lado também vemos que o Brasil avançou muito aquém de outras economias emergentes – e até mesmo do que a média dos países latino-americanos. No continente como um todo, a média de crescimento econômico desde 2002 terá sido de 4,64%, de acordo com o FMI. Na China, o patamar foi de 10,95%; na Índia, 8,2%; e na Rússia, 4,8%. Ou seja, fomos os lanternas dos BRIC.
Diante deste cotejo, é correto concluir que o resultado alcançado por Lula é pouco mais que decepcionante para quem teve tantas e tão favoráveis condições de fazer o país alçar voos mais ambiciosos.
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