Reconhecimento tardio


Ruy Pauletti: Dilma teve momento de lucidez ao reconhecer que apoio a Irã foi um erro do governo

O deputado Professor Ruy Pauletti (RS) disse nessa segunda-feira (6) que a presidente eleita, Dilma Rousseff, teve um momento de lucidez quando afirmou que o governo brasileiro errou em se abster na votação de uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que condena violações de direitos humanos no Irã. O texto foi votado e aprovado na Assembleia-Geral das Nações Unidas há duas semanas e cita preocupação com casos de tortura, alta incidência de penas de morte, violência contra mulheres e perseguição a minorias étnicas, religiosas e jornalistas.

A declaração foi dada em entrevista concedida por Dilma ao jornal “The Washington Post”, publicada na edição do último domingo (5). Na avaliação do parlamentar, é uma grande vantagem que a petista tenha reconhecido o erro do governo brasileiro ao se abster da votação. “Pelo menos, ela sabe reconhecer os erros que o governo, do qual ela fazia parte, cometeu. Nós prezamos a democracia e não podemos apoiar governos ditatoriais”, criticou.

De acordo com o tucano, que é 1º vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, existem outros erros cometidos pela gestão petista que a presidente eleita deveria reconhecer. Ele afirmou que essa seria uma atitude desejada, pois o país “deve parar de cometer absurdos internacionais”. “Espero que esse minuto de lucidez dure na maioria das questões, pois, infelizmente o seu companheiro Lula cometeu uma bobagem atrás da outra em termos de relações exteriores”, enfatizou.

Na semana de sua eleição, Dilma já havia declarado que se opunha à decisão do governo do Irã. “Eu sou radicalmente contra o apedrejamento da iraniana. Não tenho status oficial para fazer isso, mas externo que acho uma coisa muito bárbara o apedrejamento da Sakineh”, disse em discurso. Ela afirmou ainda não concordar com práticas que tenham características medievais no que diz respeito às mulheres e que em seu governo não fará nenhuma concessão a esse tema.

A censura da ONU a Teerã, capital e principal cidade da República Islâmica do Irã, foi motivada pela condenação à morte por apedrejamento de Sakineh Achtiani, acusada de adultério e de envolvimento no assassinato do marido. Brasil, Índia, África do Sul e Egito foram quatro dos 57 países que se abstiveram na votação. Outros 80 votaram a favor da condenação à violações de direitos humanos e 44 foram contrários. Segundo o jornal “Estado de S.Paulo”, a aproximação do Brasil com o Irã nessa e em outras questões tem sido vista com preocupação por Estados Unidos e Europa.

O parlamentar lamentou que durante o governo Lula, a diplomacia brasileira tenha dado apoio a nações com regimes autoritários ou que violam direitos humanos. Em fevereiro de 2010, por exemplo, em visita a Cuba, o presidente Lula se recusou a comentar as denúncias sobre a morte do preso político Orlando Zapata, após 85 dias de greve de fome. Zapata faleceu durante a estadia do petista na ilha. Enquanto a morte do ativista provocou protestos de opositores ao governo Castro, Lula criticou a greve de fome dizendo que não aconselhava ninguém a fazer esse tipo de protesto.

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(Reportagem: Renata Guimarães / Foto: Eduardo Lacerda / Áudio: Elyvio Blower)

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6 dezembro, 2010 Últimas notícias Sem commentários »

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