Gargalos que não podem mais ser adiados, por João Almeida


(*) João Almeida


O Brasil vive um problema que necessita de urgente enfrentamento, sob risco de ver comprometida sua capacidade produtiva e de crescimento. No momento em que já se respiram os ares de uma nova gestão na Presidência da República, é essencial que seja feita uma análise do que é necessário para dotar o País dos instrumentos essenciais para sustentar o desenvolvimento que alcançamos.

O sistema tributário nacional, chamado de “caótico” recentemente, é um desses obstáculos. O governo federal teve oito anos para alterá-lo, mas preferiu protelar a discussão. Prova dessa falta de disposição para confrontar o problema é que a alta carga tributária e os juros altíssimos, os maiores do mundo, foram defendidos publicamente pelo presidente Lula.

Entretanto, esse é apenas um dos gargalos que o Brasil enfrenta. A infraestrutura nacional atravessa grave crise e carece de urgente atenção. Segundo a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base, precisamos de investimentos públicos e privados em infraestrutura básica da ordem de R$ 168 bilhões anuais durante cinco anos.

Com relação a energia elétrica, o consumo aumentou 9,6% apenas no primeiro trimestre deste ano, especialmente graças atividade industrial. Com o crescimento no número de consumidores, de 1,9 milhão em apenas 12 meses, atingimos 56,5 milhões – gerando uma busca tão alta que o mercado livre de energia, aquela não previamente contratada, sofreu uma expansão de 16,7% (quase o dobro, em março, da taxa de expansão do consumo já contratado).

E como vemos desde o apagão do ano passado e com as sucessivas interrupções estaduais na oferta de energia, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas confirma que a confiabilidade do sistema é insatisfatória.

Estradas federais – Mais de 65% das estradas federais vão de deficientes a péssimas. Com o aumento significativo do movimento nas estradas e a má conservação pelo governo federal, o transporte rodoviário (que responde por 58% da carga dentro do País) sofre um encarecimento que compromete esta modalidade.

O transporte hidroviário poderia ser, senão a solução, um atenuante para este grave quadro. Não é. Esta modalidade é precária num país coberto por mal aproveitadas malhas fluviais. O governo fecha os olhos para as vantagens deste modal, sem os entraves burocráticos existentes, o custo dos transportes marítimo e fluvial poderia ser reduzido em 40%. Veja o absurdo: hoje é mais caro levar soja de Mato Grosso ao Paraná do que exportar para a China.

A falta de mão de obra especializada é outro gargalo histórico agravado nos últimos anos. É considerada pela indústria como a principal carência a ser enfrentada pelo governo federal, coisa que São Paulo já fez com suas escolas técnicas estaduais. Seria necessário qualificar quatro milhões de trabalhadores. Para se ter uma ideia, cerca de 900 mil vagas ofertadas pelo Sistema Nacional de Empregos não foram preenchidas no ano passado por falta da qualificação exigida.

Somente para a construção civil, são necessários 380 mil novos empregados especializados até 2014, sob risco de não conseguirmos realizar as obras imprescindíveis para a Copa. São necessários anos de investimentos em sequência para darmos conta desta questão.

Esses são problemas que desmotivam nossos empresários, afastam os investimentos no País e exigem providências imediatas. Sem procrastinação ou bravatas que geralmente marcam vésperas de eleições, e que o eleitor saberá reconhecer no momento adequado.

(*) João Almeida é deputado federal pelo PSDB da Bahia e líder do partido na Câmara.
Contato: dep.joaoalmeida@camara.gov.br

(Foto: Eduardo Lacerda)

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7 junho, 2010 Artigosblog Sem commentários »

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